Calheta de Pêro de Teive: ouçam o arquitecto Kol de Carvalho e deixem-se de mentiras

Calheta de Pêro de Teive: ouçam o arquitecto Kol de Carvalho e deixem-se de mentiras

O conhecido arquitecto Kol de Carvalho, em declarações a um jornal de Ponta Delgada, desmonta hoje, com as suas inegável competência e notável lucidez, a grande mentira que é a chamada requalificação da Calheta de Pêro de Teive, patrocinada e promovida pelo Governo Regional dos Açores do PS e pela Câmara Municipal de Ponta Delgada do PSD, unidos em estranha aliança numa matéria de enorme relevância para a cidade.
Depois de afirmar, nomeadamente, que os “critérios económicos” sobrepõem-se aos “critérios urbanos”, verdade indesmentível, Kol de Carvalho pede um entendimento entre o Governo Regional e a Câmara Municipal, para que ““construam uma coisa capaz” no espaço conquistado ao mar na Calheta.
Sobre os projectos que têm surgido para o local, Kol de Carvalho mostra óbvias reservas. “Todo o processo da Calheta vem num crescendo. Os primeiros projetos ainda deixavam espaço livre. Os últimos já não deixam espaço livre nenhum, embora se diga que se põem umas plantas, é muito difícil alguma planta crescer em cima de um estacionamento”, afirmou, que é o que existe abaixo do nível da Rua Engenheiro José Cordeiro, ou seja, um parque de estacionamento subterrâneo.
O Governo Regional e a Câmara Municipal têm dito sempre que vão ser demolidas as galerias inacabadas, que vai ser construído um hotel e que vai ficar uma praça de “grandes dimensões”, com espaços verdes para usufruto da população. O arquitecto vem confirmar que tudo isso não corresponde à verdade, quanto à alegada praça e aos alegados espaços verdes, ao realçar que não haverá “espaço livre nenhum” e, mesmo que coloquem lá “umas plantas”, não vão crescer em cima de uma placa de cimento.
Kol de Carvalho, cuja honestidade técnica e intelectual todos reconhecem, diz também: “O último projeto que vimos vai continuar a entaipar a Calheta, dada a volumetria brutal que vai fazer com que aquela que é chamada a quarta travessa da Calheta seja um beco horrível”. A “volumetria brutal” em causa é a do monstruoso hotel que está previsto para um local que é público mas que está concessionado a privados, o que nunca devia ter acontecido, porque a Calheta é da população.
Considera que a solução deveria passar pela construção “de um estacionamento enterrado que viesse dotar aquela zona de estacionamento e depois era fazer a tal praça pública que poderia ter um quiosque ou outro, mas que não entaipasse a Calheta”. Portanto, a Calheta livre de mamarrachos, como os poderes públicos têm dito, também é mentira, porque o hotel a construir será outro mamarracho, de grandes dimensões.
Depois de fazer uma pormenorizada cronologia deste processo, o arquitecto lembra que passaram-se vinte anos desde o aterro da baía da Calheta de Pêro de Teive e todo o espaço circundante continua por concluir.
Gostaria de saber o que têm a dizer sobre as oportunas e lúcidas declarações do arquitecto Kol de Carvalho a Assembleia Legislativa dos Açores, o Governo Regional, a Assembleia Municipal de Ponta Delgada e a Câmara Municipal, que são as instituições com competência e capacidade legais para decidirem numa matéria como a da Calheta. Em nome do interesse colectivo, unam-se e coloquem os Açores acima dos milhões, acabando com a mentira prevista para a Calheta.
A única solução correcta, digna e verdadeira é demolir as galerias comerciais inacabadas e transformar o espaço numa praça, sem mais hotéis ou interesses privados à mistura. A ideia de um jardim público não resultaria em cima de uma placa de cimento, como alerta o arquitecto.
Muito obrigado, senhor arquitecto Kol de Carvalho, pela sua brilhante intervenção, numa terra em que parece que há muita gente a “dormir”…