Pico um murro na mesa

Acabo de receber o jornal Ilha Maior de 26 de outubro. (os CTT são tão lestos a levar a carta a garcia, que chega quatro dias depois!) e leio, na última página, este artigo de Pedro Damasceno que reclama dos políticos do Pico e de São Jorge, um murro na mesa, para se ouvir no Palácio de SANTANA. Serão precisos aparelhos auditivos?

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Ainda bem que a geografia não se muda por decreto

Se assim não fosse, já há muito, teria havido um decreto a reduzir a superfície da ilha do Pico para baixo dos 170 km2, a montanha não ultrapassaria os 1000 metros e teria sido deslocalizada para um dos extremos do Triângulo. De preferência para o ocidental.
Limpinho!
Ficaria, desse modo, reduzida à sua insignificância deixando de teimar em invocar números que, obviamente, resultaram de um manifesto equívoco da natureza e que não têm qualquer importância objectiva. Sendo, em adição, reduzida a sua notoriedade e procura para os números modestos de que nunca deveria saído.
Porque realmente a dimensão desta ilha, a sua avassaladora notoriedade e a dinâmica do seu sector empresarial são minudências, que apenas entusiasmam os antigos feitores da fronteira e seus descendentes. No fundo uns parolos convencidos, bairristas e mal-agradecidos.
O que vem por Graça de Deus e por via da cor do sangue tem outro peso, vedado ao comum dos mortais. Tornando em batatas a lógica e a matemática e validando a arruaça e a falta de educação como armas credíveis para a luta política num regime democrático.
Sendo evidente que é de um grande desplante quem se atreve a pôr em causa direitos ‘adquiridos’ que vêm do tempo da outra senhora e que, por essa via, são inamovíveis e inquestionáveis. Seja para um aeroporto, um hospital, ou mesmo, um porto. Ponto final, parágrafo. Sendo, por essa lógica, ‘deploráveis’ afirmações como as que a seguir se transcrevem de um decano de blogues num jornal de São Miguel: “Ficamos também a saber que o Governo e o Partido Socialista querem promover o aumento da pista do Aeroporto da Horta mesmo que isso implique um atentado ambiental com a destruição de dois monumentos naturais e mais um outro atentado económico que é construir mais um ‘Elefante-branco’. É que ainda temos poucos. Depois admiram-se do Pico crescer e o Faial definhar. Enchem a boca com a palavra sustentabilidade ao mesmo tempo que untam as mãos com o cheiro do alcatrão.”
Isso a propósito da inscrição no Plano e Orçamento de 2019 do artigo 59 que diz: “O governo promove os procedimentos necessários para a viabilização da antecipação do aumento da pista do aeroporto da Horta, de modo a garantir a sua certificação enquanto aeroporto internacional, de acordo com as normas da Agência Europeia para a Segurança da Aviação”.
Sem qualquer debate profundo, estudo de viabilidade económica ou impacto ambiental decidiu-se avançar com uma estrutura aeroportuária estratégica para o desenvolvimento do Triângulo, afectando três ilhas e seis municípios num acto de pura leviandade política. Sem considerar alternativas, quer no plano financeiro quer no plano da centralidade/acessibilidades e sem ter ouvido, como seria imperativo, as forças políticas dessas três ilhas. Tornando inteiramente opaca uma decisão que deveria ter sido inteiramente transparente, consensual e pública.
Não tendo ocorrido nada disso é lícito concluir que uma obra de tamanha importância foi tomada por mera pressão política de grupo e à sala fechada, não atendendo ao conjunto dos interesses das três ilhas e, sobretudo, à maneira mais adequada de utilizar dinheiros públicos. Não pondo em causa, como é de elementar bom senso, uma ampliação do Aeroporto da Horta que sempre se defendeu para assegurar a sua operacionalidade e desempenho cabal de gateway.
As palavras são duras e magoadas, mas chegou o tempo de acabar com os paninhos quentes e quem não se sente não é de boa gente. É tempo das enteadas do Triângulo levantarem a voz e darem um murro na mesa que não deixe dúvidas a ninguém que chegou o tempo de os bois deixarem de ser mansos, seja por inconfessáveis fidelidades partidárias ou seja por mera cobardia cívica.
Uma excelente oportunidade, portanto, para os políticos do Pico e de São Jorge fazerem uma inequívoca prova de vida.
Como disse e bem o cronista, não nos podemos dar ao luxo de construir mais elefantes brancos. Falamos do nosso futuro e dos nossos filhos e nada pode justificar a adinamia dos descendentes de que quem da pedra fez terra — numa epopeia de suor, sangue e lágrimas.
PS: Será que o Dr. Feitas Pimentel ressuscitou?
Pedro Damasceno
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