ir para dentro da fajã

Ana Monteiro

6 hrs

Image may contain: 1 person

Há uns anos acampei durante uma semana na Fajã de Santo Cristo, na ilha de São Jorge.
Mal terminei de montar a tenda, apareceu-me um senhor a embirrar com o local que eu escolhera. Achava que era muito isolado e tentou por tudo que eu mudasse a minha casa provisória para perto da igreja. Tentei explicar-lhe como pude de que gostava de ali estar. Ele não se convenceu e, durante os primeiros dias em que lá estive, fez de tudo para me convencer a mudar o raio da tenda de lugar.
Quando, finalmente, tolerou a minha teimosia, começamos um diálogo, ao final das tardes, no Café Borges e que se prolongou até ao fim da minha estadia na Fajã.
O Emanuel era um contador de histórias, muitas delas insólitas. Mas era também um artista com laivos de filósofo atormentado.
Foi ele que me explicou o que é “ir para dentro de uma Fajã” e que é muito mais do que uma simples deslocação para um lugar.
Recordo-me muitas vezes desses dias, ritmados pelo nascer e pelo por do sol, sem electricidade e aquele momento em que os geradores arrancavam ao entardecer.
Depois disso, regressei à Caldeira de Santo Cristo algumas vezes, mas sempre de passagem. Nunca mais fui “para dentro da Fajã” e nunca mais vi o Emanuel.
Há uns dias chegou-me este livro. E eu estou tão feliz que o Emanuel tenha conseguido ir para dentro de si próprio com a ajuda da arte e da literatura.
Ele é sem dúvida a “Alma da Fajã”.

Image may contain: 1 person
No photo description available.