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Carlos Carranca shared a post.
A RTP acaba de perder o seu último pioneiro, Manoel Caetano.
Testemunho de Júlio Isidro, pela memória.
É DEMAIS!
Porque somos cada vez menos.
A televisão em Portugal acaba de perder o último resistente da primeira geração de locutores/apresentadores, o senhor Manoel Caetano.
Eu, o “puto” da TV, sempre fui tratado com muito carinho por quase todos os pioneiros, mas o Manel achava-me graça.
As vezes que entrava na sala de maquilhagem com o Manel a preparar-se, e com que cuidado, para mais um noticiário, assistia a cenas de riso de todos os presentes porque o senhor era dono de um senso de humor muito especial.
Depois, já no ar, colocava aquela voz suave e trazia-nos as notícias do país e do estrangeiro. Eram aquelas, não outras, porque alguém as escrevia para os locutores e outros controlavam os conteúdos a Bem da Nação.
Foi sempre assim para todos e com todos, não vale a pena distorcer a história .
O 25 de Abril foi e é uma data de liberdade que pressupõe harmonia, união, respeito pela diferença e esperança num futuro melhor para todos os portugueses.
Foi por esse desígnio que muitos sonharam, outros lutaram e alguns modestamente contribuíram. Continuo a acreditar na data e no seu cumprimento ideal.
Contudo, o Manoel Caetano foi alvo do Abril feio, o do revanchismo e ajuste de contas.
Pagou pelo apelido e foi saneado.
Fui-me cruzando com ele a espaços, e dei-lhe a oportunidade de simular um noticiário no meu programa “Antenas no Ar” vai para 20 anos.
Nunca mais esqueceu e grato, ficou a gostar ainda mais do “puto” da TV, agora já crescido.
Jamais lhe ouvi um remoque de agressividade em relação aos que o expurgaram, apenas por vezes alguma discreta nostalgia.
O Manoel Caetano sabia que era bonito, elegante e bem falante. A televisão mostrava esse seu lado de charmeur que manteve até ao fim.
Quando o fui visitar ao hospital onde ia repetidas vezes nestes últimos tempos, deixou-se fotografar comigo porque se tratava de um amigo e porque a enfermeira o convenceu com ternura irresistível.
Partiu esta noite um homem de fé que fez das mais emocionantes transmissões das cerimónias de Fátima.
Para ele hoje, fui o dia do encontro nas alturas.
O último dos “fundadores” da televisão em Portugal merece ao menos um olhar das novas gerações para quem a memória é coisa para esquecer.
Amigo Manoel Caetano. O “puto” da TV está a chorar.