o discurso de Onésimo

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Onésimo de Almeida disse muito que não foi mencionado nos comentários que li sobre o seu discurso. A sua defesa do Mar dos Açores terá passado despercebida a muitos, mas vibrou como um sino no rastro da condenação implícita dos preconceitos que deixam ainda a sua marca no medo da autonomia como processo de autodeterminação. A autonomia ampla e determinada pelos próprios açorianos será a maior garantia de que Portugal deixa que o futuro se concretize sem as amarras psicológicas e danosas do pretérito colonial. Portugal sem os Açores nem sombra seria no embate de interesses entre os donos da Europa. Os Açores sem Portugal deixariam as suas raízes identitárias para se mascararem à imagem de outro colonialismo de veludo, porventura anglo-saxónico. O grito plangente da independência que se ouve não deixa de ser uma afirmação identitária, mas expressa também um berro ofendido de desespero. A experiência do Reino Unido depois de 1960 bem pode servir de modelo. O problema é o colonialismo de veludo como a correia ao pescoço de um cão. Bem disse o presidente Marcelo Rebelo de Sousa que o melhor que os Açores quiserem para si será também o bem de Portugal. Porque ser açoriano é um modo diferente de ser português. É nisto que está o assento da açorianidade.

Manuel Leal
11 de junho de 2018