faleceu o professor e poeta micaelense NELSON MONIZ

Faleceu ontem no Algarve onde era professor há vários anos, o micaelense NELSON MONIZ, autor de várias obras poéticas e que anualmente revíamos nos Moinhos de Porto Formoso no mês de agosto. Sobre ele escrevi em 2009

CRÓNICA 73 TRAGÉDIAS NATURAIS E INFINITOS MUTANTES 22-23 agosto 2009

Na praia Maria Luísa, Algarve, aconteceu uma tragédia quando uma arriba de mais de 15 metros cedeu e soterrou banhistas que haviam ignorado o aviso das autoridades que, prontamente declararam que a praia fora vistoriada e estava segura, pelo que a causa do acidente seria o tremor de terra ocorrido uma semana antes. Tal como noutras tragédias, a culpa é sempre de outrem, dos mortos, dos que se não podem defender, de terramotos e causas naturais, das areias movediças falsificadas da ponte de Entre-os-Rios que há quase uma década vitimaram mais de cinquenta pessoas, quando caiu a ponte por falta de manutenção dos seus pilares. A culpa divina ganha, porém, a todas as outras causas. Neste país nunca há responsáveis, nem humanos nem materiais, mas é possível atribuir as culpas a uma divindade ou a um ato da Natureza.

Sendo um país eminentemente católico, de nome, a tarefa é mais facilitada. Não foram municípios nem construtores civis, nem arquitetos, quem construiu prédios até ao bordo das arribas algarvias e danificou os solos que, alegadamente, não aguentaram um pequeno tremor. Nunca advêm dos desastres ambientais que previsivelmente acontecem, face ao desrespeito do Homem pela natureza, ao construir em zona de aluvião ou encurrala o leito das ribeiras sob cimento…. Ninguém é responsável pela especulação dos terrenos ou o excesso de construção em zonas de proteção da sofreguidão de lucro imobiliário.

Gozamos mais um dia de praia. Uma dezena de tardes que o João partilhou com os pais que fogem das multidões ao domingo, e usam as férias para relaxar e ler.

Era isso que fruíam na calma esplanada dos Moinhos quando fomos apresentados a um professor açoriano residente no Algarve. Nelson Moniz, de sua graça, apresentou-se como professor e poeta tardio. Depois, começou a falar de pedagogia e de poesia e em vez de saírem pelas 17.30 acabamos por vir para casa já perto das 20 horas. Nem todos os dias se encontram “loucos ou poetas” com quem conversar.

A chuva e nevoeiro voltaram ao fim dum domingo soalheiro, quente e húmido, mas não refrescou a casa nem as mentes. Agosto a findar e há a sensação de não se ter repousado o suficiente. Na véspera à noite, pela uma e meia da manhã a RTP-N transmitia um programa dedicado a Amadeu Ferreira, o homem que “reinventou” a língua mirandesa e lhe deu uma escrita. Um programa interessante, como muitos que só surgem de madrugada. Apetece inferir que os programas para gente culta e inteligente só passam a desoras, depois das telenovelas entediantes para as massas. Esta observação é politicamente obsoleta e incorreta. É consabido que as televisões transmitem aquilo de que o povo gosta. Não lhes compete educar, que isso é tarefa para ministérios sem vocação, sem dinheiro nem gente dedicada. Uma minoria, sonha com um mundo melhor e luta por ele, a despeito dos obstáculos. Um mundo diferente. O Estado e os que o apoiam asseguram a manipulação da opinião pública, as distorcidas manchetes, as notícias camufladas, o abafamento dos escândalos que vêm à tona quando (e enquanto) interessam a grupos económicos.