faleceu a mãe do Dr Ramos Horta e da viúva de João Carrascalão

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Até Sempre Mãe Coragem

MÃE CORAGEM – MOTHER COURAGE

Depoimentos da Senhora Natalina Ramos-Horta para o filme “O Diplomata” (1999) que aborda a história da restauração da independência de Timor-Leste através da trajetória de seu filho, o Ex-presidente da República e Prêmio Nobel da Paz, José Ramos-Horta. Dona Natalina faleceu hoje, 27 de fevereiro de 2018.

Testimonies of Mrs. Natalina Ramos-Horta for the film “The Diplomat” (1999), which addresses the history of the restoration of East Timor’s independence through the trajectory of her son, former President of the Republic and Nobel Peace Prize winner, José Ramos-Horta. Mrs.Natalina died today, February 27, 2018.ver vídeo em https://www.facebook.com/audiovisualarchivetimorleste/videos/888606831309458/

NATALINA RAMOS FILIPE HORTA

Partiste nessa viagem sem regresso e estás agora a rever o pai, os nossos inesquecíveis irmãos Natalino, Gui, Mariazinha, Nuno, Chiquito, António, Beatriz. Estarás com a tua irmã Noemia que foi antes de ti. Estarás com o avô Arsênio Filipe, e tantos outros familiares. Devem estar todos reunidos agora nessa outra Vida Eterna.

Viveste a ocupação japonesa, perdeste a tua mãe, deambulaste pelas montanhas, sofreste, sobreviveste. Em 1975 começou a tua segunda odisseia nas nossas montanhas; cuidaste da Licinia, Aida, Artur Jorge, Gui. De novo resististe com coragem, dignidade, humildade e sobreviveste.

Sabíamos todos o que ia na tua alma. Nunca tive a coragem de pedir para me falares dos anos que viveste nas montanhas de 1975 a 1978 e depois em DILI. Eu não queria fazer-te reviver aqueles anos de sofrimento e confesso eu não queria sofrer ouvindo o teu sofrimento.

Criaste-nos, cuidaste de nós, os teus muitos filhos. Eras mulher simples, honesta, corajosa. Nunca tiveste grandes posses. Sempre viveste modestamente, humildemente, orgulhosamente.

Sempre lembraremos de ti. Sempre. Com amor sem fim e profunda admiração.

Até algum dia na Eternidade.

José

PS – A Bambi também vai estranhar a tua ausência.

Mensagem muito comovente do Bispo Emérito de DILI Dom Carlos Filipe X. Belo

AS MÃES TAMBÉM SOFREM

Em Timor-Leste, durante a ocupação indonésia, muitas mães sofriam…Sofriam ao verem as filhas e os filhos presos, torturados, desaparecidos, feridos e mortos. Também a senhora dona Natália Filipe Horta sofria…Sofria por ver seu Timor (Português) ocupado…sofria por ver os seus irmãos timorenses a sofrer. Sofria por ver um filho morto no mato.

Sofria…por ver um filho, não na prisão de Díli ou Cipinang, mas porque era “uma pedra” no sapato dos diplomatas indonésios, sobretudo, dos senhores Mochtar Kusumaatmadja (Ministro dos Negócios Estrangeiros da Indonésia, 1978-1988) e Ali Alatas (Ministro dos Negócios Estrangeiros, 1988-1999). E por causa desse filho da Diáspora, a mãe sofria…

Os serviços secretos do Invasor controlavam os seus movimentos, os seus passos, as suas conversas…A senhora Dona Natália sofria tudo isso…mas, sempre, com um sorriso nos lábios e demonstrando grande fortaleza de alma!

Esta manhã (de Portugal) traz-me à memória aqueles momentos difíceis em que muitas mães sofriam, na década dos anos 80 e 90 do século XX.

A senhora dona Natália nunca foi ao Paço Episcopal, em Lecidere-Dili, para falar comigo. O motivo era óbvio…Mas, nós encontrávamo-nos nas traseiras do hotel Turismo, ou, às vezes, furtivamente, nos corredores das salas de aula do Externato de São José, em Balide. Falávamos de Timor, do filho, diplomata na Diáspora, enfim…do sofrimento do povo timorense…

Eu notava nela, apesar da dor e do sofrimento, uma fortaleza de espírito extraordinário. E tinha uma esperança ilimitada que, um dia, iria ver e abraçar de novo o tal filho cujo nome andava nas bocas do mundo…e dos diplomatas indonésios. Iria assistir ao Sol nascente a irradiar cor e beleza num Timor livre e independente!

Mesmo, vivendo num clima de liberdade e de paz, no período de independência, a senhora dona Natália, sempre quis ser uma mãe pobre, uma avó discreta, simples e humilde.

E eu choro…por ter conhecido Dona Natália Horta…choro por termos (ela e eu), por termos passado juntos momentos de angústia, de sofrimento e de luta num período difícil da nossa história.

Hoje, só quero agradecer a Deus pela vida desta senhora timorense intrépida e corajosa.

E rezo ao Deus Altíssimo para que a receba na sua glória e lhe dê descano eterno.

Aos filhos, aos netos e a todos os parentes apresento os meus sentidos pêsames, a minha fraterna solidariedade nesta hora de dor e as minha humildes orações.

Porto, 27 de fevereiro de 2018
Dom Carlos Filipe Ximenes Belo
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