AS TOLICES DO POLITICAMENTE CORRETO

AS TOLICES DO POLITICAMENTE CORRETO

04:2200:00
NUNO MELO ALVES

AS TOLICES DO POLITICAMENTE CORRETO

Infelizmente, a moda do politicamente correto que começou a tomar conta do vocabulário público nos Estados Unidos nas décadas oitenta e noventa, já se instalou em força também na Europa e em Portugal.

Esta semana foi notícia que a autoridade de transporte de Nova Iorque iria seguir o exemplo do Metro de Londres e treinar o seu pessoal para usar palavras sexualmente neutras com os seus clientes. Absurdo. Então entra-se no metro e deixa-se de ser mulher ou homem para ser apenas um genérico “toda a gente” ou “pessoa”? Em português, esta medida seria mais difícil de aplicar, devido aos determinantes e pronomes, mas tenho a certeza que mais dia, menos dia alguma mente brilhante vai tentar impor algo semelhante …

Confesso que sempre desconfiei de como através do politicamente correto tenta-se impor uma forma de falar e de pensar, traiçoeira e dissimulada, que foge da verdade das coisas. Hoje em dia já não se fala em caridade, diz-se solidariedade. Já não se fala em esmola, diz-se subsídio. Já não se ajuda, apoia-se. Mesmo os políticos fazem questão de diferenciar as portuguesas dos portugueses, o que até podia ser por uma questão de educação, mas é mesmo para parecerem politicamente corretos. E ao trocar as palavras por sinónimos, diluiu-se o seu significado e dissimula-se o problema.

Nos Estados Unidos o politicamente correto tem ido sempre mais à frente do que no resto do mundo, tendo chegado mais cedo a extremos ridículos, que talvez não se alastrem como uma pandemia. Como exemplos, houve uma altura em que os americanos deixaram de ser gordos: passaram a ser “pessoas horizontalmente avantajadas” ou “demasiado baixas para o seu peso” e uma série de outras coisas ridículas. Os “chairmans” – presidentes executivos – passaram a ser “chairpersons”, pois “chairman” foi considerado machista pelos politicamente corretos. Os cegos passaram a ser “visualmente limitados”. Os carecas eram “quem não usa pentes”, as pessoas feias eram “esteticamente diferentes”, os fisicamente deficientes foram “fisicamente desafiados”, e por aí fora.

Para os politicamente corretos nos States nada teve limites: vários livros foram criticados e não sei se alguns chegaram a ser banidos das escolas, devido a passagens ou mensagens consideradas politicamente incorretas. Alguns americanos politicamente corretos chegaram ao cúmulo de rescrever a Bíblia – sim, a Sagrada – mudando palavras e referências consideradas ofensivas às teses do politicamente correto. Até Deus deixou de ser “Ele” ou “o Senhor”, tornando-se assexuado – na verdade, para além de uma das Pessoas da Santíssima Trindade, sabe-se lá se Deus é homem ou mulher ou ambos ou nenhum, como não se sabe se é preto, branco, amarelo, vermelho ou verde de burro a fugir, mas será que isso tem qualquer relevância? Mas se não tem relevância, faz alguma diferença como Deus é referido na Bíblia, se por Ele ou por Ela? Não, não faz, mas quem escreveu achou por bem escrever assim, e ao menos os direitos de e do autor devem ser respeitados.

As palavras valem o que representam. É preocupante quando se usam palavras diferentes para evitar dizer certas palavras apontadas como politicamente incorretas, pois revela medo de assumir-se o verdadeiro significado das coisas. E o politicamente correto contagia mais depressa que as gripes de inverno. Qualquer dia já nem se pode abrir a boca sem se arriscar um processo em tribunal, por não se falar em conformidade as expressões politicamente corretas. Grave é que o politicamente correto esconde os reais problemas e dá um ar de ser solução. E ao criar-se esta ilusão afasta-se a possibilidade de se encontrarem soluções para os problemas subjacentes, como a discriminação despropositada.

O politicamente correto é muito incorreto: substitui a essência pela forma.

21/11/2017

Nuno Melo Alves