histórias da história de Macau (Pedro José Lobo)

IN luis Almeida Pinto
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Pedro José Lobo e os Japoneses em Macau na II Guerra Mundial.
(…) Durante a II Guerra Mundial, os japoneses ocuparam toda a

China – incluindo Hong Kong – poupando apenas a pequena Macau, porque pertencia a uma neutral Lisboa.
No entanto, um comando militar japonês instalou-se na cidade e um anel de ferro estabeleceu-se à sua volta, asfixiando-a.
Os dois ou três mil soldados da guarnição local pouco mais podiam fazer do que assumir que nada de anormal se passava, cumprindo as rotinas de tempo de paz, enquanto à volta se ouvia o deflagrar dos obuses e os tiros das metralhadoras e, na cidade que crescia num ápice (de cem mil para mais de um milhão de habitantes) a peste, a fome e a guerra faziam lembrar os tempos medievais.
Neste contexto, por mais de uma vez, pequenos incidentes urbanos envolvendo militares japoneses estiveram à beira de constituir os pretextos desejados pelo alto comando nipónico para bombardear e invadir o Território, à semelhança de Timor.
Mas a cidade tinha uma arma secreta: chamava-se Pedro José Lobo.
Originário, precisamente, de Timor, funcionário público, folgazão e compositor nas horas vagas era, para além de Chefe dos Serviços de Economia, uma espécie de ministro dos negócios estrangeiros a quem o governador recorria, graças aos seus múltiplos contactos que o faziam amigo de toda a gente – incluindo dos japoneses.
Nas alturas de crise, essa figura que hoje tem mais de mito (como Camões) que de realidade, descia à cave de sua casa, armava-se de algumas garrafas de Vinho do Porto de colheita especial, dirigia-se ao alto comando Imperial do outro lado da fronteira e, entre dois fados que acompanhava à viola, e alguns cálices de boa cêpa do Douro, acabava por convencer o general japonês de que teria muito mais a ganhar em poupar obuses, do que arriscar-se a destruir uma tal adega.
Estas surtidas de Pedro Lobo revelaram-se sempre coroadas de êxito até ao fim da guerra, preservando Macau (ao contrário de Timor que, se tivesse tido um filho assim, teria talvez sido poupada à ocupação nipónica e ao sacrifício de D. Aleixo). (…)
in Laboratório Constitucional, João Guedes, edição do Instituto Português do Oriente, 1995, págs. 211 e 212