ATA ESCOLAR realista

Views: 0

Ana Gil shared CEPÓVOA’s photo.
CEPÓVOA

«Relativamente ao aproveitamento, o Conselho de Turma caraterizou-o como hilariante, uma vez que os níveis atribuídos pouco têm a ver com o desempenho dos alunos, mas sim com outros fatores, nomeadamente: o desejo de
nunca mais os ver na sala de aula, o que se conseguirá se transitarem todos para o ciclo seguinte; a necessidade de cumprir as anedóticas metas de sucesso, de forma a evitar o paleio justificativo no relatório de avaliação de desempenho e demais documentação; a vontade de evitar recursos por três ou quatro encarregados de educação, previamente referenciados pelo conselho de turma como “carraças parentais obcecadas com a entrada dos descendentes para o curso de medicina” [soou uma gargalhada geral]. ——————————————————
Os docentes de Expressões acrescentaram que também não têm vontadinha nenhuma de aturar os comentários infelizes de vários quadrantes sobre a importância das suas áreas curriculares, pelo que o nível mínimo que
atribuíram foi quatro, este para penalizar o Zezinho por nunca ter levado sapatilhas para Educação Física, nem papel e lápis para Educação Visual. ——————————
A docente de Inglês esclareceu que mais de metade da turma não distingue ainda “yes” de “no”, mas que lhe é impossível chumbar toda essa gente, com medo do que poderá acontecer [nesse momento, fez-se silêncio temeroso]. ——————————
As docentes de Matemática e de Português desataram em prantos, lembrando-se da discrepância que certamente existirá entre avaliação interna e notas dos exames nacionais, impedindo-as de se manterem camufladas na “bondade avaliativa” como os demais [soaram exclamações de compreensão e comiseração]. A docente de Matemática classificou ainda de “melgas inúteis” os pais e demais parentes que acompanham vários alunos na realização dos TPC e que os instruem no sentido de pôr em causa tudo o que acontece nas suas aulas, embora a
maioria nem o nono ano tenha concluído [interjeições de concordância], ao passo que a docente de Português desabafou que às vezes tem ganas de imitar Espanca, só para não ter que voltar a ler a ramboia de disparates e
facadas na bela Língua Lusitana. Nessa altura, a professora de Educação Visual contou que fora interpelada na rua pela mãe da Tikinha, que lhe explicara que a desconcentração da criança se devia à sua tendência artística e sonhadora [mais galhofa]. ————————————————————————————————– Os docentes de Ciências Naturais e de Ciências Físico Químicas explicaram ao conselho que, no âmbito da interdisciplinaridade, tinham decidido uniformizar os critérios de avaliação, a saber: nível três para quem tivesse pulsação, nível quatro para quem também respirasse sozinho e nível cinco para quem emitisse cumulativamente sons [olhares de admiração]. ————————————————–
As docentes de História e Geografia declararam que não abdicavam dos seus princípios, pelo que tinham atribuído nível dois a um aluno que nunca compareceu [silêncio constrangedor]. O diretor de turma sugeriu que se alterasse para “dois mais”, o que mereceu concordância de todos, quanto mais não fosse para não terem que aturar os chiliques pedagógicos do Gabinete de Psicologia. —————————–(…)”.»

por Cristina Barcoso

Sobre CHRYS CHRYSTELLO

Chrys Chrystello jornalista, tradutor e presidente da direção da AICL
Esta entrada foi publicada em AICL Lusofonia Chrys Nini diversos. ligação permanente.