entrevista ao Padre Mário de Oliveira

Mário Pais de Oliveira
28 mins ·
Entrevista na íntegra ao jornal El Espanol
NEM A LÚCIA VIU O ‘MILAGRE DO SOL’!
Toda a DCF assenta numa cópia do Pe. Lacerda

1 Porque decidiu ser padre da Igreja Católica?
Desde menino, digo reiteradamente a minha mãe, Quando for grande quero ser padre. E, logo acrescento baixinho, só para mim, Mas para ser diferente dos que conheço. Quando, depois de 12 anos de Seminário do Porto, modelo tridentino, sou ordenado presbítero (padre), no dia 5 de Agosto de 1962, com 25 anos de idade, tomo a firme decisão de ser padre pobre por toda a vida, condição absolutamente indispensável para poder ser padre diferente de todos os que até então conheço e venho a conhecer. E assim tem sido. A prova é que hoje vivo numa casinha arrendada e exclusivamente da reforma de jornalista profissional que, sem deixar de ser padre, também sou, desde 1975, por isso, presbítero-jornalista.
2 Durante a ditadura foi detido pela DGS varias vezes. Porque?
Fui preso político na prisão de Caxias, construída pelo regime fascista de Salazar exclusivamente para presos políticos que tinham de aguardar lá o julgamento nos tribunais plenários. A primeira vez (Julho 1970 a Fevereiro 1971): a segunda vez (Março de 1973 a Fevereiro de 1974). Motivo das duas prisões: depois de ter sido expulso de capelão militar na Guiné-Bissau, por pregar a paz aos soldados do meu batalhão que estavam a fazer a Guerra Colonial e de defender nas homilias das celebrações litúrgicas a que presidia, o direito dos povos colonizados à sua autonomia e independência, nunca mais a Pide/DGS me largou o pé. Apesar disso, quando sou nomeado pelo bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes, pároco de Macieira da Lixa e, em Outubro de 1969 começo a exercer esse serviço pastoral, de acordo com a minha consciência, mais do que de acordo com os cânones ou regras do Código de Direito Canónico, sei perfeitamente que estou sob vigilância apertada da Pide e da Diocese. Nas minhas práticas presbiterais e no anúncio do Evangelho de Jesus Século XX, aplicado às circunstâncias sociais, económicas e politicas da altura, não posso deixar de me referir explicitamente à Guerra Colonial que prosseguia em três frentes de África, aos presos políticos, aos jovens condenados a ir para a Guerra ou que fugiam dela para a França como emigrantes clandestinos. Tudo o que um pároco da igreja católica politicamente correcto não deveria referir-denunciar, porque existia e anda hoje existe, desde 1940, a Concordata entre o Estado do Vaticano e o Estado português. Depressa caio em desgraça perante os representantes dos dois Estados. Primeiro, o Estado português. Sou duas vezes preso pela sua polícia política, duas vezes julgado pelo seu Tribunal Plenário do Porto e duas vezes, estranhamente, absolvido pelo mesmo Tribunal, precisamente, ao abrigo da Concordata. Só não sou absolvido pelo bispo da diocese que me nomeia para a paróquia e, quando sou preso pela segunda vez, me retira a função de pároco até hoje. O que me levou e leva a concluir, fundadamente, que o Evangelho de Jesus (não confundir com o evangelho de S. Paulo!) não pode ser praticado-anunciado na igreja católica romana, sob pena de anátema para o seu arauto!
3 Qual é a sua relação actual com a Igreja?
A minha relação com a Igreja é a que acabo de referir na resposta anterior. Sou desde 21 de Março de 1973, o dia em que sou preso segunda vez pela Pide, presbítero sem ofício canónico e também sem nenhum benefício canónico. E, desde 1975, sou presbítero-jornalista, com Carteira profissional, agora na situação de reformado muito activo. Com destaque nas redes sociais, no Youtube, nas dezenas de livros que tenho escrito e editado ao correr dos anos, neste momento, já 47, nas muitas intervenções nas tvs, sempre que convidado, em múltiplos encontros ao vivo por todo o país. Respiro alegria por todos os poros, rio e canto, cultivo o Humor teológico que para mim é o outro nome de Deus que nunca ninguém viu e, por isso, quando se põem a dissertar sobre Ele, como fazem os hierarcas eclesiásticos, no topo dos quais, o papa de Roma, e os pastores dizimistas das igrejas protestantes, sobretudo, as mais recentes, só dizem disparates. Chegam a ganhar aos humoristas profissionais, tantos os disparates que lhes sai bocas fora e que me fazem rir a bom rir. Pessoalmente, dou-me bem com todos os bispos que têm passado pela diocese do Porto, ainda que da parte deles não me chegue qualquer sinal. Para eles, já não existo, o que não deixa de ser motivo de Humor, uma vez que trabalho mais, muito mais do que todos eles em actividades criativas e fecundamente pastorais, ao contrário da generalidade deles que são muito preguiçosos e, quando fazem alguma coisa, quase se limitam ao que está nos respectivos Rituais e nos Missais. Uma lástima.
4 A Igreja Católica afirma que entre o 13 de maio e o 13 do outubro de 1917 a Virgem Maria apareceu na presença dos três pastorinhos em Cova da Iria. O que considera que realmente aconteceu?
Sobre esta temática, devo dizer que dificilmente haverá alguém em Portugal que mais saiba acerca das chamadas aparições” de Fátima e que mais tenha escrito e debatido esse não-evento, esse não-assunto. Os meus dois livros sobre este tema são por demais reveladores e indesmentíveis. São eles, FÁTIMA NUNCA MAIS, Campo das Letras 1999, presente em milhares de casas de Portugal, e FÁTIMA $.A. Seda Publicações Maio de 2015, todo ele baseado na chamada Documentação Crítica de Fátima, publicada em vários volumes pelo Santuário, numa edição em parceria com a Universidade Católica Portuguesa. Tanto um como outro são literalmente arrasadores. Devo dizer que, a propósito do centenário, este ano, fiz o que pude e o que não pude para que o papa Francisco não viesse canonizar todo aquele embuste, pior, toda aquela mentira, todo aquele crime. Acontece que ele vem e, para cúmulo, ainda vem canonizar os dois irmãos, Jacinta de 7 anos, Francisco de 8 anos, vítimas mortais de todo o mal que os clérigos de Ourém lhes fizeram e às suas mentes aterrorizadas com as “visões” do inferno descritas no livrro, Missão Abreviada”, de leitura frequente na casa da Lúcia, quando, afinal, até os papas hoje dizem que não existe, pelo menos com todas aquelas labaredas e aqueles pecadores feios e maus que as três crianças aterrorizadas são postas a dizer que a senhora da carrasqueira lhes mostrou. Acontece que o papa é jesuíta e, como tal, tem voto de obediência ao papado, neste momento, protagonizado por Francisco, ele próprio, o rosto primeiro e único ( = monárquico) do Sistema de doutrina cristã católica ortodoxa que, no imperador Constantino, conquistou o império romano e, mais tarde, nas chamadas descobertas e conquistas, toma a decisão de espalhar-impor, pela cruz e pela espada, mais a Bíblia, a sua Fé e o seu Império. O que continua a fazer actualmente através das múltiplas empresas missionárias, com mulheres e homens dedicadíssimos, mas em prol de uma causa intrinsecamente má, que elas e eles têm como perfeita, divina, até. Fora da qual – continua ainda hoje a dizer – não há salvação!!! Quem ler o meu livro FÁTIMA $.A. (sexta edição Março 2017) conclui que há duas Fátimas: Fátima 1, de 1917 a 1930, quando o bispo da restaurada diocese de Leiria, reconhece, para sua vergonha, como “dignas de fé”, as “aparições” de Fátima; e Fátima 2, de 1935 até aos nossos dias, a das chamadas “Memórias da Irmã Lúcia, freira à força, primeiro doroteia, em Tuy, Galiza, depois carmelita de clausura, em Coimbra. Posso garantir que Fátima 1 é toda criação de alguns clérigos de Ourém, sob a forma de um tosco teatrinho, concebido e programado para levar à cena seis vezes, de 13 de maio a 13 de outubro, num dos campos dos pais de Lúcia, a mais velhita dos três, o qual tinha no seu chão uma avantajada carrasqueira. A acrtiz principal, Lúcia, é a única que é ouvida a pronunciar palavras decoradas, sob a forma de perguntas que teria de fazer de joelhos virada para a carrasqueira. No dia 13 de maio, não está nenhum público. Nos outros dias, sim e cada vez mais, graças ao trabalho dos clérigos párocos do país, furiosos que estavam com a implantação da República em 1910 e, sobretudo, com a publicação em 1911, da Lei de separação entre a igreja e o estado português, que lhes retirou muitos dos seus privilégios, teres e haveres. É preciso dizer que o cérebro de toda esta encenação é o cónego Formigão, na altuta professor do Seminário de Santarém, que antes de conceber e escrever o guião do teatrinho, passou cerca de 2 meses em Lourdes, a saber como tudo lá tinha sido montado e, por então, já estava a resultar e a facturar. A prova mais evidente de que é um taatrinho é que, em Agosto de 1917, não houve sessão no dia, hora e local anunciados, o dia 13, porque o governador do concelho de Ourém decidiu levar com ele, na manhã desse dia, as três crianças para sua casa, onde puderam brincar com os filhos dele de idades muito próximas, e só as voltou a trazer no dia 15. Pelo que, sem a presença dos actores, não houve quem fizesse perguntas na direcção da carrasqueira e as muitas pessoas presentes não puderem ver nem ouvir nada. Mesmo assim e para que o mês de agosto não ficasse sem “aparição”, os clérigos fazem crer que ela aconteceu à tardinha no dia 19 desse mesmo mês. Finalmente, quero deixar bem claro que das duas Fátimas, a que se impôs ao mundo, é a Fátima 2, de 1935 em diante, quando, aí sim, a Rússia comunista e ateia já era uma temível realidade para a igreja católica e para o Ocidente cristão, ao contrário da Fátima 1, em 1917, que era ainda a Rússia dos Csares, cristã ortodoxa. O mais caricato de tudo é o facto indesmentível que a própria Documentação Crítica de Fátima teve de reconhecer, manifestamente a custo, é que o primeiro documento-base de todos os outros, elaborado ao que se diz pelo pároco de Fátima nunca foi encontrado, nem sequer pelo Cónego Formigão. Por isso, toda a Documentação assenta numa cópia que o Pe. Lacerda fez, segundo ele, a partir do original que chegou a ter nas mãos. Não havia fotocopiadores e ele diz que fez uma cópia à mão, mas nem sequer teve o cuidado de arregimentar duas ou três pessoas suas súbditas, para verificarem que a cópia correspondia ao original e assinarem uma declaração conjunta nesse sentido. Querem maior parvoíce do que esta?!
5 Qual é a sua interpretação do chamado milagre do Sol, supostamente presenciado por cerca de 50 mil pessoas, quando o Sol girou sobre si mesmo como uma roda de fogo e logo pareceu precipitar-se sobre a Terra? Foi uma alucinação colectiva, ou simplesmente um exagero da imprensa da época?
Obviamente que o sol não bailou em Fátima no 13 de outubro 1917. Isso foi uma manchete em toda a largura da primeira página do extinto jornal O SÉCULO. O repórter que se prestou a fazer esse frete ao clero de Ourém foi um ex-seminarista que depois se dizia ateu. E é nessa condição que inventa esse título, a que os clérigos de então e ainda hoje se agarram desesperadamente, sem se aperceberem da aberração que semelhante manchee cientificamente hoje representa. A verdade é que o repórter fotográfico que o acompanha e está com ele entre aquela multidão de humilhados e famintos, atolados na lama da chuva intensa que caiu durante a noite e parte da manha, nada viu de anormal no sol, assim como a sua máquina fotográfica nada registou, anão ser a crédula e aterrorizada multidão. De resto, quem ler o texto integral conclui que a manchete não tem o mais pequeno suporte. É mesmo um mero título panfletário que, para vergonha do jornalista que se prestou a este papel, fica para sempre ligado ao seu nome 1. O mesmo SÉCULO, dias depois, viu-se obrigado a escrever que o sol nunca bailou em Fátima. Nem podia. Aliás, nem sequer a Lúcia viu nenhum milagre do sol. O que ela é posta a dizer é que, quando olha para o sol, viu S. José, o menino-jesus, nossa senhora das dores e outras imagens mais, precisamente, as que via na igreja paroquial de Fátima. Para Lúcia, a grande notícia que tem a dizer às pessoas nessa última sessão do teatrinho das “aparições”, é que a senhora da carrasqueira lhe garante, “A guerra acaba hoje”. Só que, como sabemos, a primeira grande guerra só acabou mais de um ano depois. E nem queiram saber a ginástica interpretativa que o cónego Formigão teve de fazer para justificar esta suposta afirmação, A guerra acaba hoje, como os clérigos tinham informação nesse sentido e verificam depois que não acabou. O relatório que tem de apresentar ao bispo, para ele poder anunciar em 13 de Outubro de 1930 que as “aparições” são dignas de crédito regista tudo. O meu Livro FÁTIMA $.A. é duma eloquência atroz. Leiam e verão. Uma perfídia sem nome!
6 Nos seus livros argumenta que a Igreja católica tem perpetrado uma fraude em Fátima. Qual foi o papel do clero de Ourém (e, em particular, do Cónego Nunes Formigao) nesta operação? Qual foi a motivação pela parte da Igreja?
O motivo era derrubar a República, restaurar a diocese de Leiria e arrastar de novo as populações para os cultos das igrejas, de onde estavam cada vez mais afastadas e, sobretudo, reintroduzir a abandonada reza do terço. A diocese restaurada veio quase logo. E o fim da República veio com a implantação do Estado Novo. A República que hoje existe é mais monarquia do que República. Só cegos por opção e fanatismo é que não vêem.
7 Os pastorinhos foram manipulados pelo clero de Ourém e a Igreja Católica de Portugal? Considera que foi um caso de abuso?
Mais do que isso. Foi um crim7e ainda pior que o da pedofilia do clero. Porque, na sequência de todo o terror em que os clérigos fizeram as três crianças viver e os sacrifícios que foram levados a fazer pela conversão dos pecadores, por exemplo, privar-se de comer e de beber água em pleno verão, quando veio a pneumónica, os dois irmãos que eram mais novinhos não foram capazes de lhe resistir e morrem, Francisco em 1919, Jacinta em 1920. Sem que a milagreira senhora de Fátima lhes valesse. A verdade é que este crime de lesa crianças continua impune. E, para cúmulo dos cúmulos, vem agora o papa Francisco canonizá-los. Onde já seu viu semelhante negação da verdade histórica e semelhante distorção dos factos?!
8 Qual foi a posição do Governo da República neste acontecimento? E, nos anos posteriores, qual tem sido a posição dos sucessivos Governos (o de Salazar, os Governos Revolucionários, e os atuais, na democracia) com a questão das supostas aparições em Fátima?
Perante Fátima 1, os governos da República fartaram-se de a denunciar e deixar bem claro que tudo não passava de um embuste. Mas, com a implantação do Estado Novo, saído do golpe militar de 1926 e com Salazar como chefe do governo, ninguém do clero quis saber mais de Fátima 1 e meteram-se a criar Fátima 2, com o segredo, a conversão da Rússia, a visão do inferno, a devoção ao imaculado coração de Maria, a devoção dos primeiros sábados. Uma Fátima bem à medida do ditador Salazar, visto como o salvador da pátria, unha-e-carne com o cardeal Cerejeira. A Concordata de 1940 é disso exemplo. Prova bem o casamento da igreja dos bispos e de Roma com o regime ditatorial católico de Salazar. Infelizmente, nem o 25 de Abril de 1974 foi capaz de beliscar em Fátima e manteve a Concordata,ainda hoje em vigor. Para cúmulo, desde há um ano o presidente da República é um católico propagandista, com tudo de papa laico, muito ao jeito do papa Francisco. E lá vão estar ambos em Fátima, nos cem anos de toda esta falta de vergonha, de decoro e de bom senso. Um negócio de muitos milhões, inclusive, com lavagem de dinheiro sujo.
9 Quando começou a investigar a historia de Fátima? Depois de ter participado na luta pela democracia em Portugal, porque decidiu mergulhar nestes temas?
Como presbítero-jornalista, não podia enterrar a cabeça na areia. Em cada mês de maio, andei por Fátima. As reportagens que então escrevi e publiquei no Jornal Fraternizar, então mensal e em suporte papel, são o “miolo” do meu Livro FÁTIMA NUNCA MAIS. Tal como a Documentação Crítica de Fátima em vários volumes são o “miolo” de FÁTIMA $.A.
10 Que tipo de documentação utilizou para investigar a história de Fátima? Foi fácil aceder aos documentos, ou houve resistência pela parte da Igreja?
A Documentação está publicada e acessível a quem a queira estudar. Debrucei-me, de modo especial nos dois primeiros volumes e depois nas Memórias da Irmã Lúcia (quatro + duas, já muito tardias), onde os clérigos tentam branquear a vida histórica dos pais de Lúcia e fazer deles e dela uma espécie de “Sagrada Famíliia”. É de gritos.
11 O que mais o surpreendeu na investigação?
O manancial de contradições e de delírios teológicos dos clérigos que se envolveram nesta tragicomédia. É preciso ler para crer. E tudo com o aval da Universidade Católica Portuguesa! Uma ignomínia e uma imperdoável agressão à inteligência cordial. Um escarro à Fé e à teologia de Jesus Nazaré.
12 Depois de ter investigado as supostas aparições de Fátima, tem dúvidas sobre as outras aparições marianas? Acredita, por exemplo, que a Virgem apareceu em Lourdes ou El Rocío em Espanha? Ou, pelo contrário, considera que a Igreja pode ter manipulado ou inventado aparições para ganhar dinheiro noutras partes do mundo?
São todas mentira, criação de mentes doentes que, em lugar de serem tratadas, são exploradas. Teologicamente, é impossível haver “aparições”. São todas expressões da chamada religiosidade popular que precisa de ser evangelizada. Em vez disso é fomentada, como se vê em Fátima. Uma igreja que isto faz é inimiga da Humanidade, das populações, dos povos. É o sal que perdeu a força de salgar e tem de ser lançada fora e pisada pelos povos.
13 Como padre da Igreja Católica, acredita na possibilidade de a Virgem Maria poder aparecer na terra?
Nem sequer existe a “virgem Maria”, a não ser como mito. Existe sim, Maria, a mãe de Jesus. Tudo o que se lhe queira acrescentar é um insulto ao seu nome e a todos os seres humanos, mulheres e homens. E um escarro a Jesus Nazaré, o seu filho.
14 Quando publicou os seus livros recebeu alguma pressão para abandonar a sua investigação? Depois de publicar os livros, teve alguma resposta ou castigo pela parte da Igreja? Como acha que a Curia vê os seus livros?
Como já disse, a hierarquia faz de conta que os meus livros não existem, mas, ao mesmo tempo, faz tudo para que os católicos não os leiam. Em vão. Porque os lêem.
15 Em várias ocasiões afirma que o Santuário de Fátima é uma máfia. Como opera essa mafia hoje em dia? É mesmo uma organização criminosa?
Está aí bem à vista de toda a gente. Este centenário revela até à náusea a máfia que Fátima é. Não fora e os papas do século XX e XXI não se envolviam tanto. É só dinheiro e multidões de gente que ali rasteja e degrada. Em nome duma fé-lixo, o mais tóxico.
16 O Papa Francisco propôs-se moralizar as finanças do Vaticano. Tem esperança que suceda o mesmo em Fátima? Confia no Papa Francisco?
Tudo o que ele diz e faz é hábil encenação. Não esqueçamos que ele é jesuíta. Curiosamente, ele nunca o diz. E, quando eleito, escolhe o nome Francisco, quando era expectável que escolhesse Inácio, o seu santo fundador. Faz tudo para esconder a sua condição de jesuíta, sem dúvida a Ordem religiosa mais perversa e mafiosa, que ataca as mentes das crianças, adolescentes e jovens que frequentam os seus inúmeros colégios e, com isso, os marca negativamente para o resto da vida. Safam-se apenas os que, depois, se fazem ateus, como aconteceu com Fidel de Castro.
17 Este fim-de-semana uns 10 milhões de pessoas irão a Fátima para ver o Papa e participar na comemoração do centenário das supostas aparições. Porque acha que tantas pessoas sentem devoção pela Virgem de Fátima e a história dos pastorinhos? O que sente quando vê tantas pessoas a celebrar esta data?
O que move as multidões sedentas de milagres do céu, porque não chegam a beneficiar dos milagres da terra, os das Ciência e os do poder financeiro, é o Medo e a necessidade que sentem de se autoflagelar, porque crê num deus sádico e cruel, vingativo, que se alimenta de gente, sobretudo de crianças aterrorizadas, como os dois irmãos de Fátima, Francisco e Jacinta. Na sua demência provocada pelo medo, as multidões são levadas a procurar fora delas a solução para os seus problema, quando essa solução só se encontra dentro delas. Mas esta mudança de postura é muito exigente e as multidões seguem a lei do menor esforço, nem que isso as leve a sofrer ainda mais e até a perder a alma. Por isso, não Evangelizar ao jeito de Jesus é um crime de omissão. Como é um crime de acção evangelizar ao jeito de S. Paulo, o perseguidor de Jesus e do seu Evangelho de libertação dos povos e destruição do Poder.
18 Promoveu uma petição que contesta a visita do papa a Fátima e a credibilização do milagre, mas poucas pessoas assinaram o texto. Porque acha que a montagem em Fátima não inspira maior indignação entre o público português?
É verdade, mas nada que já não fosse esperado. Para as multidões, o Poder quanto mais poderoso for, mais é aclamado. Quem tem medo da Liberdade, sempre alimenta os tiranos e os ditadores. Muito mais se são o papa de Roma,sucessor de César, o divino imperador. É o elementar na psicologia de massas.
19 Mesmo perante as provas mais irrefutáveis, julga que a atitude dos crentes face às aparições não se alteraria?
Não, pelo menos, enquanto o quotidiano das multidões continuar a ser este vale de lágrimas onde elas gemem e choram, como repete até à náusea a oração “Salve, rainha”.Os humilhados e os ofendidos deliram com os ditadores. Pior, se sagrados, como o papa Francisco.
20 Fátima desempenha um papel fulcral na sociedade portuguesa? Mesmo que seja baseado tudo num fraude, as aparições servirem para alguma coisa positiva?
Fátima, a das multidões, é o seu inferno, mascarado de paraíso. Nada de bom há a esperar dali. Fátima, a dos milhões e do Turismo religioso global, é uma galinha de ovos de ouro que interessa as multinacionais manter. Hoje são elas que põem e dispõem de tudo em Fátima. Os bispos e o reitor do santuário são uns pacóvios que se têm por ilustrados. São a negação da Luz e a afirmação da Treva.
21 Mesmo depois de comprovar o papel da Igreja Católica neste caso, e depois de descobrir a “mafia” de Fátima, continua a considerar-se católico? Como consegue manter a sua fé?
Continuo presbítero-jornalista, homem de Fé, a de Jesus, prosseguidor das suas práticas politicas maiêuíticas. Praticante da sua Teologia que nos revela Deus que nunca ninguém viu, pois nos habita em permanência, mais íntimo a nós do que nós próprios e que nos leva a viver na História como se Deus não existisse. Por outras palavras, viver na história sempre com Deus, mas sempre sem Deus. Tal e qual como é o ser.viver de Jesus Nazaré. Sim, continuo a ser católico, no sentido etimológico da palavra, UNIVERSAL, consciente de que só a Humanidade é católica, isto é, universalizável, e que o único denominador comum a todos os seres humanos e povos de diferentes línguas, culturas e cores, é o HUMANO, não o cristão, muito menos o romano.