o sexo e os livros de leitura (O livro “O Nosso Reino”, de Valter Hugo Mãe,)

Joffre Antonio Justino
2 mins ·
Este texto merece aplauso e uma boa gargalhada !!!!

João Quadros
O livro “O Nosso Reino”, de Valter Hugo Mãe, foi retirado da lista de leituras recomendadas a alunos do 3.º ciclo pelo Plano Nacional de Leitura. O protesto dos pais por causa de passagens com conteúdo sexual e violento gerou incómodo entre o painel de onze especialistas que anualmente propõem as obras. Ou seja, ficaram com comichão no pipi.
Acho que os pais da minha geração não têm noção do que os filhos sabem. Não nos podemos esquecer que os miúdos cresceram a ver A Casa do Segredos. Eles não precisam de educação sexual se já convivem semanalmente com a Teresa Guilherme há uns anos.
Nas últimas décadas houve uma revolução sexual. O sexo deixou de ser, em parte, um tabu. Quando eu tinha 14 anos, passava férias no campo, e não se falava de sexo – até porque as galinhas não falam. Naqueles tempos, para nós, o sexo era o que é hoje para os jovens a matemática: não percebíamos um boi daquilo. O meu professor de religião e moral ensinava que quem se masturbava ficava cego. Aquilo pregou-me um susto tão grande que fui logo aprender braille. A única conversa sobre sexo que tive com o meu pai, foi uma vez, (eu tinha 18 anos) quando me emprestou o carro, e antes de eu sair de casa, disse: “Tu não me fs o carro ou eu f-te.”
Vocês, jovens leitores (os dois), conseguem imaginar a dificuldade em ver uma mulher nua na minha adolescência? Já nem falo numa real! Imaginem sem net e com dois canais de TV. Eu tinha de ir folhear a enciclopédia luso-brasileira à procura de nativas, ou esperar pela ida ao dentista para, na sala de espera, conseguir folhear uma Hola velha que tinha fotos do carnaval do Rio. Os jovens, agora, conseguem ver pornografia em qualquer lugar, com a privacidade necessária. A oferta é tanta que até perdem tempo a ver vídeos de gatos!
A primeira vez que estive com uma mulher foi a pagar. Recebi vinte escudos (um Santo António), era isso ou denunciava a minha professora de ginástica. Nunca tinha visto um pipi. Fez-me lembrar um peluche que eu tinha quando era criança. Hoje, quase todas as mulheres se depilam mas naqueles tempos não havia cá dessas coisas. Um homem tinha de gostar tanto de mulheres que era capaz de defrontar um castor de barbas para lá chegar. Em termos higiénicos, estes tempos são melhores, mas o que perdíamos nisso ganhávamos em sentido de orientação na mata.
Quando era adolescente, se alguém tinha sexo com uma rapariga deixava de se dar com os que ainda não tinham tido. Entrava para o grupo dos heróis e a miúda para o das badalhocas – ainda bem que já não é assim… Felizmente, as mulheres libertaram-se e assumiram que gostam tanto como os homens e as mosquinhas. E há tanto aparelho que nem precisam de nós para nada. Chega a ser arriscado deixar uma mulher sozinha com um electrodoméstico. Convém estar sempre de olho na cozinha.
O único facto positivo na minha adolescência, em termos de relações, é que não havia Dia dos Namorados. Não tínhamos essa chatice. O mais perto disso era a Páscoa, porque os pais iam para fora e ficávamos com a casa só para nós. O dia dos namorados é coisa mais estúpida que inventaram a seguir ao comando de TV da NOS. Convém recordar que o Dia de São Valentim foi importado dos Estados Unidos. Os americanos conseguiram vender aos tugas uma ideia tão disparatada como o 14 de Fevereiro. A única maneira de nos vingarmos era impingir-lhes o 13 de Maio. Mas eles não são assim tão estúpidos e só acreditam no que vêem. Espera…