relembrando o que escrevi sobre jornalismo em 2008. errei?

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continuação….CRÓNICA 50 o desensino 18-31 janeiro 2008

Hoje em dia faltam “sonhadores” como eu fui durante aqueles 24 anos, pois os jornalistas não ousam criticar ninguém a menos que “mandados”. Já não há espírito de missão nem a profissão pode ser levada a sério. Portugal nunca foi um país de “jornalismo de investigação” e agora ainda menos.
A sociedade civil não se pronuncia livremente e os jornalistas raramente o fazem, contentando-se com ao mundo “underground” dos blogues. Se é certo que o progresso tecnológico galopante nas últimas décadas permitiu a todos terem um acesso alargado à informação, o que se passa é que as pessoas estão (cada vez mais) menos informadas. Vive-se na miragem duma multiplicidade de jornais e de canais televisivos, mas os telejornais são decalcados uns dos outros, apenas os apresentadores e a ordem de apresentação das notícias muda.
Os grandes grupos económicos que dominam os meios de comunicação (e a partir de agora os reduzidos meios livreiros nacionais) promovem um cartel monopolizador da “verdade” onde a independência e isenção são palavras vãs que se arriscam – em qualquer momento – a serem trucidadas pois que os assalariados (leia-se jornalistas) se bem que hipoteticamente livres para escreverem sobre qualquer assunto, de qualquer forma ou feitio, só serão publicados se o conteúdo for conveniente aos interesses dos seus donos (leia-se patrões).
Este tipo de censura que cresceu incomensuravelmente nas últimas três décadas (e que já me preocupava em meados da década de 80 na Austrália) é a pior forma de censura: é quase invisível e mais brutal que o velho sistema do “lápis azul” do SNI que eliminou 64 páginas das 100 páginas do meu primeiro livro de poesia em 1972 (Crónica do Quotidiano Inútil) para ele ficar elegantemente reduzido a 32 páginas.
Assim o quarto poder, como era designada a imprensa escrita e audiovisual na sequência do célebre caso Watergate, deixou de funcionar em prol das liberdades e direitos dos cidadãos. Já não faz denúncias antes pactua e se esconde sob a ameaça velada das restritas leis que obrigam um jornalista a fornecer as suas fontes sob pena de ir parar à cadeia ou de pagar indemnizações milionárias.
Os grandes grupos gabam-se de conseguirem eleger governos e presidentes e quando não o conseguem vale sempre a ajudazinha duma batota como aconteceu com a eleição de George W. Bush na Florida. O homem que perdeu as eleições e teve menos votos foi eleito para aquilo que temos vindo assistir nestes últimos oito anos e não sei quantas guerras e milhares de mortos por causa dessas eleições.
Mas ao mesmo tempo os grupos económicos que o apoiavam aumentaram desmesuradamente a sua influência, poder e lucros. Nem só de petróleo vive a administração Bush.
Já não há debates mas sim fachadas de pretenso debate como o programa da RTP 1 “Prós e Contras” que se tornaram num ótimo veículo disfarçado de propaganda governamental. Este cinzentismo acéfalo e monocórdico da comunicação social foi enriquecido nestas mesmas décadas pelo aparecimento em força dessa droga legal a que chama de “imprensa cor-de-rosa”. É soporífera e causa danos irreversíveis mas nenhum governo se atreve a proibi-la ou sancioná-la. Pelo contrário, encontram nela um valioso aliado na luta obscurantista em que estão empenhados para que o povo pense que está a ser governado enquanto eles se governam.
Resta-nos o mundo subterrâneo dos blogues a nível mundial para sabermos o que é deveras importante. Quando os políticos falam não são eles que falam mas sim as agências de comunicação e os grandes grupos que os sustentam, como se viu em janeiro com uma revelação de quais agências estão por detrás dos partidos e dos políticos portugueses.
Quer-se, teoricamente, um cidadão culto e educado, para ter a liberdade de fazer as suas opções em liberdade. Mas o que se criou foi um pateta manipulado, que pensa que vive em democracia e é livre mas não passa duma fraude democrática. São esses os idiotas que votaram no Sócrates e nos antecessores (e vão votar nos sucessores) e agora se queixam de ele lhes mentir e de os ter enganado. Como se diz em inglês “read my lips” … O que o nosso povo quer é ver as revistas com os escândalos dum pseudo jetset e duma pseudonobreza sem sangue só de fama fácil. O que o nosso bom povo quer é saber das desgraças, das inundações, dos incêndios, das bombas e guerras longínquas e das tragédias dos outros, pois as nossas não lhe interessam. O nosso povinho (tão bem retratado e atual como foi por Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão, entre outros) quer ver as vergonhas dos outros para que não vejam a sua.
Assim se explica que a maior parte dos bons jornalistas portugueses se encontra desempregada sem ser por opção ou por reforma antecipada. Eles não eram fabricantes de notícias sensacionalistas para abrir o telejornal, empolando banalidades em transmissões diretas do nada.


Gostava de terminar com a palavra REVOLTEM-SE mas isto pode ser considerado um crime de traição ou de terrorismo à face das novas leis pelo que coíbo de o fazer.
Faltou-me deixar bem claro que a ideia é fazer com que os professores sejam ou estejam cada vez menos preparados e criar alunos menos preparados, a teoria do mínimo denominador comum…não interessa a nenhum governo uma população culta, educada e lida…depois era mais difícil regê-los, segue-se hoje uma nova versão da máxima salazarista “quanto mais ignorantes mais felizes…” ou como o amigo Daniel de Sá lestamente me avisou, no seu formato original, a máxima de Salazar era: “Um povo culto é um povo infeliz.”
Depois criam-se artificialmente novas castas (este país sempre foi um país de castas), no ensino. Primeiro, havia uma dicotomia entre professores primários, secundários e os universitários. Vasos não comunicantes e estanques. Depois passamos os primários a professores do básico ou lá como lhes chamam agora. Não os melhoramos, não lhes demos mais instrumentos de cultura e de formação, promovemo-los apenas no nome, título e casta. Fizemos isso com os do secundário e apenas resta a dicotomia entre os do Politécnico e os das Universidades. Como não lhes demos mais formação, nem preparação nem educação, os professores primários (e a minha mãe é-o) apesar de serem agora equivalentes aos nossos antigos professores de liceu continuam com a sua velha mentalidade de professores primários que impede o sistema de seguir em frente e evoluir (perdoem-me as honrosas exceções que sei existirem) e se sentem atacados quando os colegas que vêm de outros ramos do ensino e com outra formação académica os confrontam.
A ignorância e a falta de preparação de tantos professores até dói, pois já basta haver programas que pouco ou nada ensinam (cada vez os programas são mais curtos, inúteis e fúteis para contrapor a asserção do meu tempo que aprendíamos coisas de que mais tarde não nos iríamos servir). Claro que essa falta de preparação dos professores aplicada numa educação de massas caracterizada pelo mínimo denominador comum vai perpetuar o ciclo descendente de conhecimentos, e cada vez teremos mais burros nas nossas fileiras. Isso é altamente importante para os políticos no poder pois quanto mais iletrados os professores e seus alunos melhor serão conduzidos o rebanho de dez milhões de cordeiros que caracteriza a nação portuguesa