Views: 8
………….
(…) O ministro Leitão Amaro bem pôde aconselhar as pessoas a não ligar muito ao que ouviam na rádio, liam nos jornais ou viam nas televisões para tentar perceber o que se passava durante a greve geral desta quinta-feira.
O simples facto de, durante um dia inteiro, a comunicação social ter sido dominada por um só assunto é uma demonstração daquilo a que conduziu o “devaneio” de um Governo que achou que podia fazer uma revolução na legislação laboral sem que isso representasse um aumento da conflitualidade social.
É uma derrota, a somar a outras que o executivo tem acumulado neste dossier. Da união pouco usual das duas centrais sindicais à convocação de uma greve geral que já não acontecia há 12 anos. Da quase ausência de quem, no espaço público, defenda a bondade das mudanças à lei até ao embaraço provocado ao próprio candidato presidencial Luís Marques Mendes. O Governo começou muito mal, sem ter construído uma narrativa para as mudanças, e arrisca-se a acabar pior. (…)
O teste do algodão veio na manhã desta quinta-feira, por esse exímio leitor das massas que é André Ventura. No início de Novembro, o líder do Chega achava que a greve geral era “um erro em que só a extrema-esquerda e os partidos a ela ligados conseguem ver qualquer benefício”. Agora considera que a greve é legítima e que “existem razões para um descontentamento generalizado”, reclamando que o Governo “arrepie caminho e retire uma série de leis absurdas que aqui estão”. Falta saber até onde esta mudança cerceará o apoio parlamentar de que o executivo, mesmo que aja sem parecer precisar, necessita para fazer passar este pacote legislativo.
De pouco servirá entrar na guerra de números que, como seria de esperar, estão dentro da amplitude do exagero entre aquilo que os sindicatos exibem como uma vitória e o que Governo e patrões dizem que foi uma derrota. O que é certo é que a greve geral existiu mesmo e dificilmente deixará de ser um marco negativo no percurso político deste executivo.
[David Pontes, “Público”, 12/12/2025]

