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Cada um de nós tem a sua visão sobre o 25 de Abril e, na maioria das vezes, essa visão é moldada pela experiência pessoal, mesmo para aqueles como eu que não viveram diretamente a revolução. O país continua profundamente marcado por memórias, vividas ou herdadas, desse dia “inteiro e limpo” e também pelos excessos cometidos, fosse por um lado ou pelo outro, que se lhe seguiram.
As celebrações dos 50 anos de Abril deveriam ter sido um grande momento de exaltação nacional, celebrando aquilo que Abril teve de mais autêntico – a liberdade. No entanto, estas mágoas que ainda pulsam um pouco por todo o país transformaram os últimos quatro anos num exercício constante de ressentimento, como demonstra esta reescrita espúria do 25 de Novembro. Nos últimos dias, muitos procuraram fazer crer que foi o 25 de Novembro que fez nascer a democracia e evitou uma guerra civil e um banho de sangue, esquecendo convenientemente que esse banho de sangue já existia, sob a forma de uma guerra colonial, e que foi também por isso que se fez o 25 de Abril.
Não digo que devêssemos todos ter-nos deitado no divã da terapia de grupo para curar as feridas de 48 anos de ditadura, ou as mágoas de uma descolonização brutal e injusta e a utopia da reforma agrária. Mas perdemos a oportunidade de, em vez de nos flagelarmos com o que nos divide, celebrarmos o que nos une: a democracia e a liberdade.
E temo que os 50 anos da Autonomia possam infelizmente seguir pelo mesmo caminho da oportunidade perdida… estas e outras ruminações na crónica de hoje para o Açoriano Oriental e também em azoreansplendor.blogspot.com
P.S. esta crónica vai com o meu agradecimento especial ao TóZé Almeida e à Joana Borges Coutinho pela coragem e pelo exemplo. Obrigado.

