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591. a luz ao fundo do túnel 24.5.25
Alguns de vós podem ter reparado que em 025 raramente tenho escrito sobre as vicissitudes políticas do país, pela mera razão de que as minhas queixas são quase as mesmas das de Eça de Queiroz há mais de um século e meio, acrescidas da desenfreada vertigem das gentes rumo ao abismo. Não só em Portugal, mas no resto do mundo, como em tantas outras épocas do passado, a História repete-se e o desfecho será idêntico.
No entanto a minha digressão por outros temas sofreu um rude golpe em abril com um acidente cardiovascular triplo, que levou a que fosse chamado de emergência um helicóptero da Terceira para me retirar das Lajes das Flores onde declamava poesia no 40º colóquio da lusofonia e me trazer para o HDES em Ponta Delgada.
Para além de enormes perdas de memória desse evento e dos 3 dias que o antecederam confesso que de pouco ou nada posso recordar o que se passou. Tampouco vi alguma luz, nem algum tunel, nem vi a minha vida repassar em milhões de imagens à minha frente, nada, o zero absoluto. Fiquei surpreendido quando recuperei os sentidos e me perguntaram se sabia onde estava. Pensei ainda estar nas Flores.
Não sei se foi bom não ter revivido a minha vida, nem ter visto a luz e o túnel, mas a memória ficou definitivamente com lapsos e a própria linguagem – por vezes – parece ter sido esquecida. Uma experiência dolorosa da qual sei ter perdido totalmente a noção de nove dias de vida e que tento exorcizar nesta lenta recuperação a que, – quase um mês de internamento – irei prosseguir em passo bem lento e inseguro.
Sei que tenho implantes para estabilização cardíaca, mas o susto foi demasiado e a escapatória demasiado precária para eu tornar a viver como até agora, pelo que as minhas preocupações com os arrepelantes resultados eleitorais serão a menor das minhas preocupações.
A dádiva da vida que me foi concedida, uma vez mais, é demasiado grande para me perturbar com minudenciais políticas.
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