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Em 1972, Luís Filipe Lindley Cintra [1925-1991], um dos nossos grandes linguistas (autor de uma bela gramática – com o brasileiro Celso Cunha), publicou um estudo [intitulado] Sobre ‘Formas de Tratamento’ na Língua Portuguesa. Era outro tempo: grandes empresas ou instituições não me tratavam por tu quando abria os seus sites (que não existiam nessa época) ou escutava a sua publicidade, até porque não me conheciam de lado nenhum. Ainda se usava o vós. Hoje tuteia-se muito – um abuso deselegante. O destrambelhamento é tão grande na nossa língua que, quando queremos insultar ou diminuir alguém, o tratamos por senhor. O «Sr. Trump», «o Sr. Macron», «o Sr. Putin», como já foi «a Sra. Merkel». Quando alguém trata uma pessoa por «o Sr. Santos», «o Sr. Montenegro», já se sabe que é para chacota (o líder do PS é arrapazado para «Pedro Nuno», não sei porquê). Diz-se «senhor» e imita-se um esgar de nojo. Que saudades do tempo em que havia senhores. Na AR, já o Sr. Ventura trata as pessoas por você, o que é ainda mais agarotado. Que gente.
Fonte
Crónica do escritor e editor Francisco José Viegas, transcrita, com a devida vénia, do Correio da Manhã de 25 de julho de 2024.’
in Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/artigos/rubricas/controversias/que-saudades-dos-tempos-em-que-havia-senhores/5593 [consultado em 06-08-2024]