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518. NIGEL TURNS 15, setº 2011
os filhos são como as ilhas
ainda ontem nascente rato e careca
sonho há muito sonhado
promessas de séculos adiadas
sem nos darmos conta medraste
por entre as silvas e cardos
de malas às costas como o caracol
ser filho de professora
é ser caixeiro-viajante sem eira nem beira
hóspede de cidades, aldeias e vilas
desfazer amizades como quem respira
tentar manter laços numa distância
criar novos elos faces novas
aprender sotaques e maneiras
perder o medo e criar confiança
no desconhecido, no novo
aprender lições em ritmo de maratona
sem tempo para parar
para ver crescer as sobrinhas
longe de avós, tios e primos
enquanto crescias e eram dores difíceis
os pais a avelhentarem
sem fôlego para a tua juventude
irreverente, impaciente, ambiciosa
sempre a quereres tudo e já
os filhos são como as ilhas
não há continente que as segure
acordam no meio dos oceanos
e é só mar e ar
por vezes fogo e tremores
que a terra nunca é firme
os filhos são como as ilhas
nasceram para viverem longe
cresceram distantes e apartados
e quando damos conta
já se fazem ao mar
na esperança de um dia voltar
e há sempre esta tristeza
a falta de tempo partilhado
as brincadeiras que não se tiveram
as conversas que não falamos
as desobediências infindas
os ralhos e os castigos
e a dor imensa de saber
que quando te fizeres ao mar
não ficaremos em terra para sempre
nem estaremos no cais a acenar
connosco apenas a memória
dos momentos bons e felizes
dos orgulhos nos teus atos
das pequenas conquistas
quando foste mais velho do que eras
ajudando no que sabias e podias
justificando aquilo em que críamos
apartados ficaremos de ti
como longe estamos dos outros
todos filhos e netos à distância de um mar
os filhos são como as ilhas
não há continente que os segure
crescem em novas pátrias
e nós sem forças para nadar
impotentes e velhos
sem remos para velejar
ficamos no cais à espera
de um bote ou avião
uma carta, um telefonema
ou imagem MMS ou Skype
desfolhando álbuns de fotos antigas
recordando momentos e locais
em que éramos família e una
e precisavas de nós
nem sempre é triste envelhecer
pesaroso é não o aprender ledo
temos de aprender a permanecer
alegres e vaidosos quando nos deixam
felizes na nossa missão
certos de que um dia voltarão
os filhos são como as ilhas
adoram estar no mar
deixemo-los navegar
e descobrir que os continentes
não são feitos para nadar
Lindíssimo, Chrys!