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CAROLINA CORDEIRO
cmocord@gmail.com
O silêncio tem sido a minha resposta. Não é para calar nem para consentir. É apenas por não saber o que transmitir.
No dia em que decidi falar, a notícia aconteceu. Perdi o raciocínio; não soube o que pensar e o sentir foi de “arrombo”.
Há seis anos, lembrei-me das cerimónias fúnebres do meu pai. Duas semanas depois da dele, foi a mãe da minha cunhada. Dois dias depois, uma prima. Desde aí, mortes, velórios e enterros têm um peso demasiado assombroso na minha vida. E, como na altura não houve palavras que me fizessem sentir melhor, o calar é a minha escolha, especialmente quando sei que o fim está à espreita.
Custa-me a acreditar que a última vez que a vi, ela sorriu-me, dizendo “Havemos de nos encontrar, mais tarde.” Uma frase que me prende à falta de responsabilidade de amiga e que me afoga o espírito.
Nas constantes homenagens que lhe têm feito, discordo e concordo com algumas expressões. Ela não era a sombra, mas a rocha onde todos nós gostávamos de nos aconselhar; ela não era a formiga, mas o rei da selva, disfarçado e com uma das mais civilizadas e sensíveis formas de agir: ela não era a fragilidade, mas a força que a forma não aguentou mais suportar. Era a alegria, a competência, a teimosia e a preocupação que nos unia aquando das reuniões da família lusófona. Era aquela que detinha o condão de nos manietar e, indubitavelmente, felizes éramos nós por ajeitar a vida daqueles dias à sua vontade.
A única alegria de tudo isto é o já não existir a dor emocional, consciente da dor física. Ela não partiu. Foi o corpo que venceu a luta, mas o âmago da Ni é eterno. E se assim for, como dizem, enquanto existir uma pessoa a quem ela tenha influenciado, ela jamais morrerá.
Ela foi homenageada em vida, numa mesa onde também eu estava. Injustiça! Ela merecia uma mesa só para si.
Seremos nós, agora, que temos de revisitar o seu legado, desejar alcançar a sua ética e abraçar o seu nome etéreo.
Helena Chrystello, Ni, a mulher do querer é poder.
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Com os melhores cumprimentos,
Carolina Cordeiro
Que belas Palavras, Carolina Cordeiro!! Helena Merece…