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Publicado no Jornal Correio dos Açores, 28 de Setembro 2023
Cabo Submarino Google: Uma Grande Oportunidade para os Açores
No passado dia 25 de Setembro, a Google anunciou o lançamento de um novo cabo submarino entre os Estados Unidos da América (EUA) e Portugal continental, com passagem pelo arquipélago das Bermudas. Este cabo denominado “nuvem”, é um cabo óptico transatlântico de última geração e de elevada capacidade, com previsão para entrar ao serviço em 2026.
O novo cabo terá uma rota diferente dos cabos submarinos transatlânticos existentes. Enquanto os actuais estão a Norte dos Açores, com ligações entre os EUA e o Norte Europa, o cabo “nuvem” terá uma rota a Sul dos Açores. Por certo, a opção da nova rota não é alheia às actuais tensões geopolíticas e a nova ordem mundial em construção.
O novo cabo “nuvem” confere uma grande perspectiva de futuro para os Açores: é uma oportunidade única a cada 20 anos. Os Açores têm aqui o ensejo de ligar-se a um sistema internacional com o carimbo Google, tal como já o garantiu o arquipélago das Bermudas.
O acesso ao cabo “nuvem” pode ser por amarração directa ou por derivação (provavelmente a mais viável). Seja em que configuração for, a ilha de São Miguel tem as condições para acolher esta amarração, facilitando e acelerando o processo de adesão ao projecto do novo cabo.
É vantajosa a participação dos Açores num sistema internacional, de entre outros: maior poder negocial; partilha e mitigação de riscos técnicos e financeiros. Portanto, temos numa melhoria na operação e manutenção a custos mais baixos. Neste caso em concreto, também existem vantagens estratégicas específicas, porquanto o cabo submarino “nuvem” permite atrair a atenção do “ecossistema tecnológico” Google sobre os Açores.
O cabo submarino “nuvem” pode partilhar infra-estruturas terrestes e troços submarinos com o anunciado sistema CAM (Continente-Açores-Madeira). No entanto, os Açores não devem esperar mais. Não devemos fazer depender a participação dos Açores no cabo submarino “nuvem” dos repetidos anúncios sem concretização do CAM. Seria bom que existisse algum tipo de coordenação entre projectos. Não sendo possível ou oportuno, os Açores têm uma “nuvem” para agarrar. Não fiquemos à espera de outros, numa incerteza permanente que compromete o desenvolvimento socioeconómico dos Açores.
No âmbito das suas responsabilidades, o Governo Regional dos Açores deve desenvolver, com persistência e acutilância, os contactos estratégicos para que o novo cabo submarino “nuvem” tenha uma amarração nos Açores, nomeadamente na ilha de São Miguel. As Associações Empresariais, Órgãos Consultivos e a Universidade dos Açores devem juntar-se e cooperar num esforço conjunto, no que se poderá chamar uma verdadeira “mudança de paradigma”, caso se venha a ter nos Açores um cabo submarino da gigante multinacional Google.
Ponta Delgada, 27 de Setembro 2023
João Quental Mota Vieira
Eng. Electrotécnico (IST) e MBA (UAç)
Ex-Quadro Superior da Marconi/PT
Ex-Chefe da Estação de Cabos Submarinos dos Açores
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