PEREGRINOS INCONSCIENTES

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As festas da Senhora dos Milagres na Serreta, ilha Terceira, têm uma componente semelhante às de Fátima: o pagamento da promessa concretiza-se com a realização de um percurso a pé que, devido à dimensão da ilha, pode rondar os 20 kms.
Nos dois ou três dias precedentes, centenas e centenas de devotos lançam-se ao caminho, quer durante o dia quer à noite. Este ano, desloquei-me de carro até à Serreta para recolher dois peregrinos que haviam cumprido a sua promessa. Fiquei deveras impressionado com o que vi pelas estradas, ao cair da noite. Isolados ou em grupo, as pessoas caminhavam desordenadamente, em que uma grande maioria não usava qualquer sinalização luminosa que marcasse a sua presença. Mesmo conduzindo com a máxima precaução, as estradas mal iluminadas, sem passeios por onde pudessem circular, eram uma constante fonte de perigo. Mais impressionado fiquei quando vi vários casais de jovens, transportando a criança no carrinho, sem qualquer sinalização luminosa.
Que os pais queiram sujeitar-se a todos os perigos possíveis, é um assunto que lhes diz respeito, embora não concorde; submeter uma criança a esses mesmos perigos é, na minha leitura, inadmissível. Penso até que a Igreja já se pronunciou contra a prática de fazer promessas em nome de terceiros, obrigando-os a cumprir o que não prometeram, muito menos um inocente bebé.
Sei que este desabafo nada resolve, mas quero juntar-me à corrente dos cidadãos que condenam comportamentos irresponsáveis nestas peregrinações.