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We will always have Laranjeiro |
Eu não sei se os meus amigos já foram ao Laranjeiro. Se não foram, deviam ir. Geograficamente está pertíssimo do Chiado e por isso, é praticamente centro de Lisboa embora fique do outro lado do rio. O café é ligeiramente mais barato, o metro anda por cima da superfície e a vista para o Cristo-Rei é muito melhor.
Em passando por lá podem encontrar este magnífico anexo a ser alugado por 850 euros. À primeira vista pode parecer algo exagerado mas há que olhar mais perto. Os baldes de tinta indicam renovacão e a televisão com cinescópio dá o ar vintage que se quer.
Uma pintura bem aplicada e alguns cogumelos da parede escondidos bastarão para que o inquilino, ao percorrer aquele mármore clássico do páteo, depositado na década de 80 (saía muito), se sinta a calcorrear uma avenida cheia de pelicanos em Miami.
Aqui há uns 2 anos, um senhor que vendia uma ruína no Seixal (na parte velha) dizia-me, com ar de quem tinha encontrado água no Sahara: “como está custa 80 000, depois das obras fica em 180 000”. Perguntei se parte das obras consistia em mudar a casa para Paris ou se, no fim, a envolvente continuava a ser o Seixal. Nunca mais falámos e foi pena. Parecia-me uma pessoa com histórias boas para contar sobre patos.
O que acontece neste momento com a habitacão em Portugal, numa altura em que a populacão empobrece a olhos vistos, é absolutamente escandaloso. Meti aqui o exemplo desta barraca no Laranjeiro mas há 100 outros para escolher. Todos os dias. Por todo o país.
Não me falem em estado paizinho ou mercados que se regulam. Não me falem em oferta quando há centenas de casas devolutas e, acima de tudo, não me digam que não é possível fazer nada e que a solucão é ir sempre procurando algo cada vez menor, mais barato, com menos condicões e numa zona ainda mais de merda.
Já damos de barato que uma barraca no subúrbio custe mais do que o salário de 70% da populacão. Aceitamos, obviamente, que um entidade não eleita nos rebente as financas com taxas de juro na habitacão que mais parecem créditos privados. Somos absolutamente esmagados por impostos no continente Europeu e, perante tudo vamos sorrindo, virando umas sardinhas na praia e achando natural que o Costa, no meio deste dilúvio, vá, literalmente, para outro lado do mundo ver um jogo de futebol.
Onde anda a oposicão neste país e que raio de noticiários vêm vocês? Há por aí alguém que esteja interessado em parar com este assalto colectivo a que estamos sujeitos desde 2020?
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