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POBREZA NOS MEIOS LITERÁRIOS
Eu posso considerar-me privilegiada, mas conheço muitas pessoas nos meios culturais (e noutros!) que vivem muito mal.
É em nome delas que eu falo hoje, porque há coisas que têm de ser ditas:
Uma boa parte das pessoas do sector da cultura tem grandes dificuldades económicas. E isto deve-se ao facto de o trabalho cultural não ser pago: conferências, palestras, participação em colóquios, mesas redondas, apresentações de livros, entrevistas, publicação de artigos em jornais e revistas. A Colóquio-Letras é uma honrosa excepção!
Ao não pagar estes trabalhos , está-se a assumir a pouca importância da acção cultural, o seu papel mais do que secundário, uma espécie de enfeite na lapela das instituições.
Este fenómeno traz outros correlatos: muitas destas pessoas anseiam receber um prémio literário, certamente pelo prestígio dele, mas ainda mais para compor a sua magra conta bancária. Havendo muito mais candidatos do que premiados, o não recebimento de um prémio leva a ressentimentos contra quem o recebeu , contra os júris, contra as instituições que o atribuem. E ainda pode levar à imitação das obras já premiadas, na esperança de vir a receber o tão almejado prémio, acabando por se perder originalidade na criação e escrevendo “mais do mesmo…”
Conclusão: falta de originalidade, mal-estar, insatisfação, clima de má- língua nos meios literários têm outras causas, além do consabido narcisismo. Podem ser, e em minha opinião são, em grande parte, reflexo da falta de meios financeiros dos agentes culturais.
Certamente que não se pede ao canalizador, ou a um técnico que vá consertar a máquina de lavar gratuitamente!
Lembro-me de alguém ligado à Finança me dizer com ar de gozo:
“Para que hão-de pagar-vos um trabalho que de antemão já sabem que o farão pro bono?”
Os agentes culturais não devem preencher as lacunas do orçamento Geral do Estado para a Cultura!
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