sete cidades 2015

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16.1. DE VACAS, LAGOAS E TURISMO, CRÓNICA 143, JANEIRO 2015

 

Leio hoje que “está por estudar o perfil do turista que busca os Açores” segundo dizem os agentes de viagem” … Deve ter sido uma surpresa saber de repente que vinham as companhias aéreas de baixo custo ou low cost e nada se sabia sobre o perfil do turista nos Açores…, mas no meu baú, encontro uma notícia já velhinha em que o Observatório Regional do Turismo dos Açores apresenta estudo sobre restauração:

No âmbito da estratégia de investigação e inovação para a especialização inteligente venho apresentar as seguintes sugestões: Criação de um novo projeto intitulado Sustentur (turismo sustentável – sustentabilidade económica, social e ambiental); ou integração de atividades nos vários projetos já existentes:

A partir daqui fiquei mais tranquilo e resolvi ir dar uma volta à ilha, mais especificamente ao lado oeste onde se situa a Lagoa das 7 Cidades, ex-libris da ilha. Constatei:

As vacas fazem parte de toda a paisagem da ilha, quase que são a paisagem da ilha. Encontrei as ditas nos montes, nas chãs, na estrada e na orla da lagoa das Sete Cidades, em números consideráveis…ocupando vastas áreas das faldas da cratera vulcânica e espraiando-se mesmo até à borda de água, como se pode ver em fotos apensas … O GRA [Governo regional dos Açores] gasta milhões atrás de milhões – há anos – em campanhas dispendiosas contra a eutrofização das lagoas, tem vindo a adquirir inúmeros terrenos privados a fim de evitar a presença de vacas e subsequente contaminação dos lençóis de água das lagoas. Já em 1983 havia problemas deste tipo. Posteriormente as causas foram sendo atribuídas à exploração agrícola.

A industrialização, o uso de adubos químicos e utilização de irrigações intensivas, juntamente com tecnologias desastrosas, quer ao nível da qualidade dos solos quer na qualidade das águas subterrâneas e de superfície afeta a vulnerabilidade de um aquífero isto é, a qualidade da água subterrânea pode ser muito vulnerável a uma carga de nitratos, originada por práticas agrícolas incorretas.

A agricultura, apesar de não ser a única, é talvez, a principal atividade humana responsável pela diminuição da qualidade das águas subterrâneas e de superfície

Pelas imagens pode-se comprovar que o Governo podia ter poupado enormes montantes dado que as vacas continuam pachorrentamente a pastar nas margens da lagoa…e a culpa nem é delas, que carneirentamente vão para onde as mandam.

Já em 2008, o perito em solos Jorge Pinheiro dizia que a solução encontrada pelo Governo para combater a eutrofização da Lagoa das Sete Cidades não ia resolver o problema. Em abril 2014, continuava o Governo regional a afirmar que ia resolver o problema.

medidas de combate à eutrofização na Lagoa das Furnas: O Secretário Regional dos Recursos Naturais anunciou que prevê reduzir em mais de 50% a carga total de nutrientes que afluem à lagoa das furnas, no combate à eutrofização, através da retirada das restantes áreas de pastagem. “Segundo o secretário regional, que falava na assinatura do contrato-promessa de permuta de terrenos de pastagem na margem da lagoa das furnas, o governo vai avançar com a obra hidráulica para desvio dos afluentes da ribeira do Salto da Inglesa..

Passados estes anos ainda ninguém deve ter lido o que se escreveu sobre a eutrofização que aumenta de ano para ano, mau grado os milhões investidos… Isso é mais evidente quando a luta contra a eutrofização se substitui por duvidosos e custosos projetos de embelezamento das margens… sem falar na aberração das casotas em betão que o arquiteto Souto Moura plantou na Lagoa (uma das 7 Maravilhas Naturais de Portugal), as quais, apesar das promessas não estão acabadas, nem habitadas, nem têm interessados em habitar ou comprar.

Mais um mamarracho ou elefante branco para o qual tarda em chegar solução. Convertam aquilo em aparthotel e pode ser que haja turistas interessados já que os locais as desdenham. Além destas obras de tão reputado arquiteto (que devia estar pouco inspirado na altura em que as concebeu) existem outras plantações metálicas junto à margem, de volumetria desajustada bem como os materiais utilizados que contrastam com a beleza natural da lagoa e como tal contestadas em 2013.

Associações ambientalistas criticam a dimensão e tipologia dos equipamentos construídos na margem da Lagoa das Sete Cidades, nos Açores, para apoio às atividades do plano de água, considerando que a solução “destoa” da paisagem. “Colocamos muitas reservas ao dimensionamento que foi feito e ao impacto que aquele efeito de caixote tem perante uma paisagem mais harmoniosa com linhas mais suavizadas e retas”, Para Diogo Caetano, não está em causa a requalificação da bacia hidrográfica, mas a arquitetura dos equipamentos que “não é a mais adequada”, criticando a instalação “tão próximo do plano de água” da lagoa. “Poderia ter-se feito uma pequena estrutura, mais vocacionada para a reabilitação de edifícios, baseada no turismo de natureza”.

Dos espaços concessionados em 2015 (a um custo de 4 milhões €) está o bar-restaurante, estrutura metálica ladeada de vidro, com esplanada sem teto, aberta aos elementos e sem proteção do sol além de ocasionais guarda-sóis que se supõe existirem no verão.

Nesta tarde de sábado tinha 5 clientes quando lá entramos, a contrastar com o velho bar-restaurante em frente à igreja sempre a abarrotar, sintoma evidente de que a ideia não vingou, embora tenha a vantagem de proporcionar acesso rápido a uma casa de banho, ao contrário da outra unidade mais antiga. Teria ficado mais barato construir umas casas de banho do que este monólito metálico com madeira e vidro, espaços exteriores sem utilização e para os quais se não vislumbra utilidade. Refiro-me – como é óbvio – às esquadrias metálicas, suspensas sobre o solo, que ladeiam a parte sul das estruturas e parte do lado sobre a lagoa. São inclusive um perigo para as crianças.

Mas como dizia o chefe do Governo em junho 2014:

“A requalificação das margens da Lagoa das Sete Cidades, investimento de quatro milhões de euros hoje inaugurado, reforça a rede de Centros Ambientais dos Açores e potencia a utilização dos recursos endógenos para criar riqueza e emprego.”

PS: adorei também ver os cortes arbitrários de criptoméria e outras ao longo das vertentes da lagoa dentro do atual plano de desbastar os matos e vender a madeira para fazer dinheiro…. Mandem já vir os turistas para eles apreciarem esse atentado, e depois tornem a estudar o modelo de desenvolvimento e o tipo de turista que nos vem visitar…https://blog.lusofonias.net/wp-content/uploads/2023/06/7-cidades-e-vacas.pdf