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Rabo de Peixe
Para quem tiver a pachorra de ler tudo: obrigada.
O que me motiva é o profundo amor e respeito aos Açores em geral e a São Miguel em particular. Também a empatia e a compaixão.
Vi 5 episódios porque estávamos numa atividade familiar.
Se assim não fosse não teria terminado o primeiro.
E, obviamente, não volto a ver mais nada. Já tive mais dose do que queria. Literal e figurativamente não tenho estômago para aquilo.
Gosto imenso de etnografia e era o que me gerava curiosidade – o “retrato” que eventualmente seria feito a um local deste país. Rabo de Peixe tem sido, infeliz e injustamente, conhecido até agora por razões que se referem a determinados pontos muito focais e nada têm a ver com o total da vila. Possuindo ainda uma área considerável, é extremamente injusto que se lhe tenha atribuído ao longo dos tempos os rótulos exclusivos de atraso, pobreza, desleixo, etc., etc. Tomara muita gente ter a cultura, o dinheiro, as casas e os bens existentes em Rabo de Peixe. Porém, com esta série, penso que a sua imagem só piora. Ao anteriormente elencado junta-se a violência, a droga e o assassinato.
Antes de prosseguir permitam-me esclarecer que:
1) Não sou de Rabo de Peixe nem tenho antepassados de lá (nem sequer do concelho da Ribeira Grande);
2) Há muitos anos, quando comecei a ser professora, os meus estudantes que eram colocados em Rabo de Peixe diziam maravilhas da sua aprendizagem clínica. Eu achava estranho – simplesmente possuía uma representação completamente distorcida. A partir de uma determinada altura passei a ir com os estudantes. E fiquei admiradíssima. Também passei a gostar muito. Dos profissionais com quem trabalhava, das condições mas, para o que importa, da sua população. Mesmo o das “zonas problemáticas”. Pessoas muito simples que podem ter problemas, mas connosco, educadas e respeitosas.
3) A equipa de produção/realização parece ter esclarecido em alguma imprensa que não pretendeu retratar Rabo de Peixe. Mas isso devia estar bem nitidamente declarado desde o início e na própria série
a. Uma declaração que não encontro e os meios de comunicação social têm feito o resto – de ligar a bota com a perdigota.
4) Não percebo nada de cinema, teatro, ou artes representativas. Mas penso que consigo juntar dois e dois e não esperar que os atores falem como na Vila de Rabo de Peixe ou São Miguel. A minha opinião e o que a fundamenta, está em outros pontos.
5) A atuação dos atores, alguns mais do que consagrados, parece-me impoluta. E, por isso, todos de parabéns!
6) Haver uma narrativa que vai sucedendo é do melhor que a série tem.
7) A história até pode ser interessante para quem gostar do estilo. MAS NÃO É RABO DE PEIXE!
O que encontro nos cinco episódios vistos é (a minha seguinte lista não é exaustiva mas, aqui, vai do que considero menos para o mais gravoso):
a) Palavrões que surgem sem qualquer contexto e que não são de uso nem nos Açores nem em Rabo de Peixe – muito menos à data dos acontecimentos, antes das redes sociais e da TV Cabo que, para bem e para mal, influenciam usos, costumes, padrões, valores e falas das nossas gentes.
o Por exemplo, encontram-se dois amigos e o cumprimento é três palavrões e quatro palavras – não somos assim.
o Caso houvesse interesse, haveria muito a incluir – palavrões também há, só que diferentes, ditos de outro modo e noutros contexto.
b) Desadequação do papel familiar.
o Não acredito que, nem nos mais estranhos casos de disfuncionalidade familiar, uma filha dissesse ao pai “O que eu gosto mesmo é de f*****” e “nenhum rapaz aqui sabe fazer um m*****”.
Quando a pobre dissesse a primeira já teria levado uma tapona tal que teria o sangue a escorrer pelas ventas. Daria uma cena a juntar às outras – mas ao menos esta, infelizmente, representativa (e não só de Rabo de Peixe).
c) Violência que, para quem não gosta, é desmesurada
o Quando vi que iam esquartejar um corpo ainda perguntei a quem me rodeava “não vão fazer aquilo, pois não?” Fizeram!
o “Enterrar” uma pessoa viva é também demasiado para mim
d) Alteração anedótica das leis da natureza. Exs.:
o Um corpo atirado à água não tem assim uma mão que aparece “tão perfeitinha” (penso que a inspiração foi o primeiro filme “O Tubarão”)
– estaria em decomposição muito avançada…
o Ninguém seria colocado dentro das caldeiras das Furnas e sairia bem porque “tinha estado a fazer sauna”
Esta é uma situação que até considero perigosa. Frequentemente os turistas perguntam se a água das Furnas está quente. Infelizmente já houve acidentes, mesmo fatais. Imagine-se se pensam que se faz sauna!
e) Desrespeito pelas pessoas em geral e por algumas em particular
o Conheço familiares de um sacerdote de Rabo de Peixe.
O senhor era muito mais velho do que o padre drogado da série, tanto que já faleceu mas, queira ou não, pensei nele – e não devo ter sido a única.
O homossexual loiro fez-me imediatamente pensar em alguém que conheço – e, de novo, não devo ter sido a única pessoa que faz esta associação.
• Um aviso à abertura como sucedem em tantos filmes, séries e novelas, a declarar a fantasia da série faz mesmo falta.
De entre as pessoas das minhas relações que conhecem bem a Vila de Rabo de Peixe está o meu filho mais velho, há largos anos enfermeiro da SIV (emergência pré-hospitalar) da Ribeira Grande. Como tal, a qualquer momento, entra pelas casas das pessoas e conhece bem as diferentes realidades. Segundo ele, o que a série retrata dos bairros complexos de Rabo de Peixe é a cor das paredes.
Hoje li de alguém que me mostrou imensa inteligência, o seguinte: Se se chamasse Rio de Janeiro papava na mesma. É que é isso mesmo.
Não lamento não encarneirar de bandada – sempre tive cabeça para pensar por mim e é o que continuarei a fazer.
Depois de ter publicado mais largamente escrevo também para os que chegarem aqui: insultos é que não, que não estou a insultar ninguém.
Reitero a excelente interpretação autores dos atores e o “narrador” (não sei como se chama tecnicamente) parece-me que tudo o mais desvirtua uma terra que não o merece. Queriam contar uma história violenta? Conseguiram. Conseguiram algo premiado (Parabéns!) tipo Máfia siciliana. Mas não fizeram o trabalho de casa: nem dos acontecimentos de 2001 nem das suas repercussões. NADA DAQUILO É RABO DE PEXIE.
Esta série não retrata Rabo de Peixe – nem nas suas virtudes nem nos seus defeitos. Podia ser Cacém, Matosinhos, Santo André ou a Cochinchina.
Acrescenta-lhe aspetos medonhos que não tem e nunca teve.
Para mais, ainda acabaram com uma possibilidade que os açorianos tinham: o nosso prato de blicas com molho de naião que gostamos de recomendar.
Mas, sejamos positivos: virão aviões cheios com imensos turistas de todo o mundo à procura do espaço geográfico onde se dizem palavrões, se trafica droga dentro de santas, se matam pessoas e os corpos desafiam as leis da natureza. Encontrarão uma ilha maravilhosa e uma vila interessante. O resto é fantasia. E pode ser que deixem algum dinheiro! Desta vez, sem ser criminoso. Ou não…
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Pedro Paulo Camara and 76 others
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- Micaela Ávila BrumA senhora devia estar orgulhosa desta série estar a ter sucesso, pelos vistos não percebe mesmo nada de cinema etc tudo o que fizeram na série, não estão a redimir seja quem for, todas as vilas, freguesias tem a sua pronúncia, o seu calão, e nesta série retratam exactamente isso, isto é uma série e não um documentário. Devia estar feliz por apostarem numa série nos Açores que irá ajudar muito na divulgação da nossa terra…Any way … E não, não tive paciência para ler a sua crítica imensa … Bem Haja, estamos há espera da 2 temporada. Parabéns ao elenco e produção
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Sérgio AguiarHá que distinguir documentário e ficção. E parece que a senhora nunca viu séries/filmes de ficção. Se todas as pessoas dos locais onde há filmagens, por esse mundo fora, fizessem um “filme” como a senhora está fazendo, ia ser uma coisa linda.5
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Micaela Ávila BrumPodia dizer muito mais, mas com uma crítica destas, não merece mais comentários.2
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Ricardo MartinsCada um tem a sua opinião….Vou lhe chamar a essa Sra de Quarta feira16
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João Bernardo RebeloFoi uma critica maior que a série. Em pleno 2023, ano na copa, da tecnologia e da igualdade como é possível achar que esta série tem demasiado calão ou violência? Nestes pontos anteriores até que é muito leve em comparação com outras séries. Pessoalmente para mim há certos pontos na história FICCIONAL que falham, mas nada que comprometesse o enredo. Em relação ao calão que é muito criticado, de modo geral nós todos utilizamos e com frequência, basta ficarmos atentos, nas está tão entranhado que não damos por isso. Não pretendo mudar a opinião de quem não gostou, agora há certas críticas que não se enquadram com o intuito da série e a própria história em si, e mais uma vez não é um documentário.9
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Eunice SousaSra. Paula Santos parabéns pelo seu discurso. Parabéns pela coragem de dar a cara e ir contra a opinião da maioria que adorou.10
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Miguel Bettencourt… quando não se sabe distinguir realidade da ficção… dá quase uma segunda temporada da série. Na escrita… na escrita.De resto, é uma opinião. Há que respeitar11
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Miguel MedeirosA sério? O Leonardo di caprio não é aviador nem detective, incrível estragou a minha infância7
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2 repliesPaulo MeloComo disse e bem, não tive paciência para ler mais que dois parágrafos…6
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Emanuel Silva TavaresDevia haver um limite de caracteres nos comentários4
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1 replyÁlvaro SilveiraRespeito a sua opinião, é perfeitamente valida como todas as outras, mas permita me um comentário ao seu comentário. Sabe o que é ficção?!? Independentemente do local ou representação de um povo ou acontecimento, apropria série diz ” inspirado em acontecimentos reais… Muito vagamente”. É ficção minha senhora tem o intuito de causar sensação e emoção a vários níveis… Aliás se não me engano.. porque hoje em dia o mundo mudou muito, umas coisas para melhor outras para pior, mas vivemos no mesmo mundo… O cinema está cheio de ficção de outros lugares com outras histórias, está é só mais uma série, a meu ver muito boa. Mas independentemente dos gostos não merece esses comentários l, ok uma coisa é não gostar e não ver, outra coisa ter uma interpretação de que é tudo mau e não se pode fazer ficção em Portugal ao nível do que se faz pelo Mundo fora… Sabe uma coisa, sem ofender, vá ver mujas a passar perto do calhau. Tenha um bom fim de semana e viva a Vida.12
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Olga MonizHaja paciência para estas séries principalmente para o produtor desta,será que este ė mesmo um produtor? Se é nao conhece os nossos usos e costumes Pois bem sou de Rabo de Peixe e com muito orgulho2
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Sílvia FernandesPelo amor de Deus!!!!2
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Sandra Costa OliveiraEu ia ler… Mas entro de serviço às 14h11
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Tiago PimentelOh santa paciência2
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Floriano CabralFogo não consegui ler a partir do segundo parágrafo.- Like
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Bruno DominguezFaltou acrescentar esta ideia aí:- Like
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Mario ArrudaQuem gosta ve quem nao gosta nao ve .5
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Antónia SousaParei de ler na primeira frase do ponto 4- Like
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Carlos RegoSemana passada fui a Madrid, tentar ver se imprimia uns Euros nos bancos de la … mas aparentemente a série que vi ‘Casa de papel’ me enganou !14
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Nélia FerreiraConfesso que não vi a série, não tenho Netflix mas é com muito orgulho que escrevo, cresci e vivo em Rabo de Peixe.Do que tenho lido nas críticas, é que a maioria das cenas foram gravadas no Porto Formoso.Honestamente, com ou sem série, as pessoas têm a sua opinião formada acerca de Rabo de Peixe. Não acredito que esta mude agora.Rabo de Peixe é uma Vila com muitos habitantes. Gente boa, acolhedora, uns mais simpáticos, outros menos… Toxicodependentes sim é verdade, droga também mas isto HÁ NA ILHA TODA!9
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Susana ParreiraVi esta série e gostei.Estão de parabéns.Cada um com a sua opinião gostos não se discutem .- Like
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João E TâniaEu ia até ler mas não tive paciência, valeu me mais ver os 7 episódios. TOP5
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Carlos RegoQuando em dúvida, leia o que a produção descreveu numa entrevista“Trata-se de um ‘thriller’ com toques de humor sarcástico sobre quatro amigos cuja vida mudou com a chegada de uma tonelada de cocaína e, embora baseada em factos reais, a série é completamente fictícia” refere a produção.8
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Lúcia FaleiroConfundir a realidade com a ficção é grave!Sou açoriana, nascida e criada em S.Miguel.Adorei a série!Para tristeza de algumas pessoas, o trabalho está muito bem feito!Agradeço a todos os que trabalharam para a boa consecução desta série!Excelente trabalho, João Tordo!12
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Paulo Pereiraoutra vez arroz..4
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2 repliesSuely TinelliConcordo plenamente, achei muito mal , ter que mostrar fortes cenas de drogas , e tráfico- Like
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Alexandra SalgueiroFABULOSO TEXTO . PARABÉNS!!!- Like
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Marco Catarina DuarteParei de ler o teu texto da blica logo na primeira vírgula.6
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2 repliesCatarina LopesA série não é um documentário, muito menos fidedigno, sobre Rabo de Peixe. É uma série de ficção, uma paródia sarcástica baseada em alguns acontecimentos reais e propositadamente exagerada, quer nos conceitos, acontecimentos e nas personagens. Mas compreendo que nem todas as mentes se consigam deixar levar e viajar pela imaginação e visão surreal de outros e se agarrem aos conceitos científicos e técnicos. Pouco divertido pá!5
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Manoel CostaJa vi séries espanholas e sul americanas bem piores. Adoro o elenco e as paisagens chocam qualquer um.- Like
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Andreia GoulartHá que entender que a ideia da série não era retratar Rabo de Peixe, para isso teria que ser um documentário, simplesmente pegaram num acontecimento e fizeram uma série de ficção, é ficção como outra qualquer! Tal como no Havaí tb não existem dinossauros (jurássico park). Rabo de Peixe não vai ficar mal por causa disso, quem metia Rabo de Peixe mal era muitas vezes o próprio pessoal da ilha…4
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1 replyAna Isabel I. FerreiraÉ uma série é ficção! Não é etnografia!- Like
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Pedro AndradeAté porque fica mal com erros, vindo de uma professora!!!4
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1 replyHelena OliveiraE o Pai Natal… existe mesmo?- Like
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Paulo ReisTrata-se de uma série de ficção e não de um documentário.- Like
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Maria PereiraConcordo consigo em tudo o que disse- Like
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Bruno RaposoÉ apenas mais uma opinião, não há que criticar, apenas não percebo a relevância da mesma para ser publicada nesta página. Apenas para gerar buzz?2
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Nelson MachadoSó li mesmo até à parte da pachorra! Esse texto é maior que o enredo da série…4
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1 replyMaria MonizFICÇÃO……termo usado para designar uma narrativa IMAGINÁRIA, IRREAL. Acto ou efeito de fingir , INVENÇÃO, DISSIMULAÇÃO, criação de carácter artístico baseada na imaginação, MESMO SE IDEALIZADA A PARTIR DE DADOS REAIS. ( Google dicionário on line)- Like
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