açores demasiado ricos

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EDITORIAL
Somos demasiado ricos…
Está a correr uma notícia que aponta para sete de junho próximo a inauguração em Santa Maria de um radar da LeoLabs. Em boa verdade, é apenas mais um radar, mais um centro para isto e para aquilo, mais uma coisa qualquer. Será o primeiro radar da LeoLabs na Europa. Refere a notícia num jornal credível: “Trata-se da mais avançada plataforma de infraestruturas e serviços da baixa órbita terrestre (em inglês Low Earth Orbit ou LEO) e projetará Portugal como pioneiro no domínio dos serviços e do conhecimento da situação espacial”. É possível com este radar rastrear objetos até dois centímetros e evitar choques no espaço, que poderiam ser fatais. Mais acrescenta a notícia: “A LeoLabs ocupa uma posição única na nova indústria espacial global e emergente como o principal fornecedor comercial de dados, análises e serviços de reconhecimento da situação espacial Low Earth Orbit (LEO) com base na plataforma de software baseada na nuvem da rede de radares LeoLabs. A rede de radares comerciais da LeoLabs rastreia detritos espaciais e satélites em LEO; a sua inovadora plataforma de software analítico e API aberta permitem o desenvolvimento de serviços e ferramentas inovadores para apoiar os crescentes interesses regulamentares, ambientais, empresariais, de defesa, científicos e comerciais em LEO, preservando simultaneamente o ecossistema LEO para as gerações futuras”.
A citação é longa, mas vale a pena. Ficamos a saber que estamos, mais uma vez, perante a utilização do espaço açoriano para a montagem de infraestruturas que duma forma ou de outra servem determinados interesses, sendo que, neste caso, como em quase todos os outros que podemos citar, estão em causa fins comerciais. Ou seja, os açorianos cedem o espaço, sofrem as consequências, se as houver (há sempre…), e continuam pobres como dantes. Nas notícias que temos lido sobre este radar nada consta sobre os benefícios para os Açores. Qual a nossa parte no negócio? Qual o impacto deste negócio no nosso PIB – Produto Interno Bruto? Que impacto terá este negócio na melhoria do nível de vida dos açorianos que estão na miséria e que são “apenas” um terço de todos nós? Mais uma vez estamos perante aquele filme da garrafa de coca-cola e dos indígenas (Os Deuses Devem Estar Loucos). Talvez tenha chegado o momento de sairmos deste filme. Porque estórias como esta do radar e muitas outras, conforme se apresentam publicamente, são um verdadeiro crime contra o Povo dos Açores.
  • in, Diário Insular, 16 de Maio / 2023