MEMÓRIA DO TUP, ESTREEI EM 1969 ABRIL

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UNIVERSIDADE E TUP (TEATRO UNIVERSITÁRIO)

 

Embora as notas de admissão à Faculdade fossem excelentes, a mudança de tipo de ensino fora (de novo) traumatizante pois custou-me imenso a adaptar ao novo ritmo e às exigências de trabalho. Sentia que era apenas mais um número e não uma pessoa como estava habituado a ser tratado no liceu. Aqui cada um era deixado à sua sorte e que se desenrascasse. Comecei com atividades extracurriculares tais como o Teatro, do qual tinha já dois anos de experiência liceal.

O espetro da tropa havia-se tornado numa realidade só adiada pela frequência universitária. Era só uma questão de tempo até se concretizar. Foi conseguindo

 

sucessivos adiamentos na incorporação militar com documentos da frequência universitária até ao fim do curso. Foi uma época interessante.

Não podíamos ter nessa época associações de estudantes, mas um pequeno interstício legal permitia que criássemos uma Pró-Associação de Estudantes e foi isso que eu e outros fizemos, sob o olhar condescendente das várias entidades repressivas da época. A principal atividade e fonte de receitas era a de copiar sebentas de matérias para os alunos do curso, depois começamos a organizar convívios (Faculdade de Economia do Porto) no final do ano em pleno Palácio de Cristal (hoje Pavilhão Rosa Mota) onde tínhamos um ou dois grupos de música pop, um Manuel Freire (para os mais intelectuais) e uma Maria da Fé para os mais popularuchos. Não havia liberdade, não havia democracia, mas havia seres pensantes e conseguíamos agradar a todos. (Hoje só há pimbas).

Tornara-me politicamente ativo, após 1967, ao frequentar o TUP (Teatro Universitário). Ali organizava-se concertos secretos com o Zeca Afonso. Paredes-meias com o Quartel-General da GNR onde pensavam que se estava a ensaiar uma peça. Também o fazíamos. Como cenarista o famoso Mestre José Rodrigues. Nos ensaios o poeta Mário Viegas e a atriz (futura locutora e vereadora da Cultura da Câmara Municipal do Porto) Manuela Melo. A minha estreia pelo TUP (Teatro Universitário do Porto) ocorreu a 22 de abril de 1969 (com a ausência habitual dos meus pais que jamais me incentivavam em qualquer das minhas atividades extracurriculares). Tivemos uma digressão à Covilhã e outra a Coimbra onde presenciamos os incidentes estudantis com a PIDE a abater um estudante e o chefe da PIDE (um tal senhor Figueiredo) na primeira fila a ver se eram todos subversivos (só alguns, diria eu dissimulando-me na sombra para não ser descoberto).

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Nesse período tive o prazer de ouvir o Mário Viegas dizer poemas meus numa sessão no TUP. Um dos textos que ele lera constava do meu primeiro volume de poesia publicado (edição de autor, Crónica do Quotidiano Inútil, maio 1972). Foi uma grande honra pois pressentia-se que o Mário Viegas iria longe (faleceu em 1996) na sua arte de declamação que o levou a altos voos, vários discos, programas na rádio e TV.MANUELA MELO

Foi também nesta fase que comecei a saber melhor o que custa trabalhar pois empregara-me em “part-time” na Crediverbo. Vendi Enciclopédias Verbo e outros livros entre novembro 1970 e março 1971, com algum sucesso financeiro.

 

IN CHRONICAÇORES VOL 5 LIAMES E EPIFANIAS AUTOBIOGRÁFICAS ED LETRAS LAVADAS

Sobre CHRYS CHRYSTELLO

Chrys Chrystello jornalista, tradutor e presidente da direção da AICL
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