José Gabriel Ávila · Efraim: aviso à incompetência (Cron. Rad. Atlântida)

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Efraim: aviso à incompetência (Cron. Rad. Atlântida)
A depressão Efraim que assola este arquipélago, sendo mais um fenómeno meteorológico, típico desta época do ano, não deixa de preocupar a população destas ilhas.
Apesar dos grandes empreendimentos portuários realizados nas últimas décadas, o mar continua a dominar o nosso quotidiano, irrompendo, terra dentro, com a fúria das ondas alterosas, destruindo o que parecia seguro, derrubando sonhos de anos e anos e demonstrando com os seus ímpetos incontroláveis, que as zonas ribeirinhas da costa estão cada vez mais inseguras. O mesmo se diga a respeito do cuidado com os cursos de água no interior das ilhas.
As mudanças climáticas são uma das razões desses episódios anualmente repetidos.
Mas, alguém se pergunta se as obras realizadas na orla marítima destas ilhas, acautelam os padrões da segurança máxima,ou os projetos salvaguardam apenas a segurança mínima, para poupar dinheiro? E será que foram corretamente construídos e bem fiscalizados?
O que se vê, sempre que há uma catástrofe, um desabamento de terra, uma inundação, o desalinhamento de uma ribeira com os pequenos ou grandes estragos e até acidentes mortais, é que não se decide corretamente de molde a evitar situações semelhantes: Não se determina aqui não se pode construir, para não haver problemas identicos no futuro. A palavra normalmente é reconstruir, e ver se não acontece outra vez…
Basta recuar na nossa memória para comprovar o que afirmo.
Ainda recentemente, as nações unidas realizaram um estudo detalhado divulgando as zonas vulneráveis à progressiva subida das águas do mar. O mapa da ONU assinala, claramente, as zonas ribeirinhas das ilhas açorianas, como que aconselhando não só prudência na construção mas a coragem na tomada de medidas que acautelem o nosso futuro.
O documento está publicado, mas ainda não vi que os governantes o considerassem para prevenir eventuais ocorrências, nem nos planos municipais de ordenamento do território, nem nos empreendimentos portuários, nem no interior das ilhas, cuidando dos cursos de água, e das infraestruturas rodoviárias.
Vem uma chuvada mais intensa e os caminhos municipais transformam-se em ribeiras porque não há escoamento conveniente e as águas inundam habitações, normalmente as mais pobres e vulneráveis.
Não sou entendido nestas matérias, mas qualquer observador pergunta-se por que se dá prioridade ao saneamento das artérias citadinas, e não se atende ao protesto clamoroso dos habitantes das zonas rurais, sujeitos aos impulsos da natureza, sem que ninguém lhes valha?
É tempo de mudar de rumo. Não podemos estar permanentemente sujeitos aos ditames da natureza, como se não houvesse forma de a contrariar.
O diagnóstico está feito. Necessitamos de gente competente para assumir novos rumos no ordenamento do território e projetos mais consentâneos e consistentes face aos condicionalismos ambientais que nos estão reservados.
Gerir bem significa fazer o melhor, com os recursos financeiros disponíveis e tomar opções que garantam um aproveitamento presente e futuro dos investimentos.
A depressão Efraim vai seguir o seu rumo normal e dissipar-se mais adiante.
Outras se seguirão com maior ou menos intensidade. Importa que aprendamos com os nossos erros para não estarmos sempre a mendigar mais verbas para remendar as nossas incapacidades, quando alguns problemas já poderiam estar resolvidos.
Infelizmente ainda há muitos responsáveis que só se lembram de Santa Barbara quando faz trovões…
José Gabriel Ávila
11/12/2022
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  • Júlia Roxo

    Por aqui ainda constroemquase em cima do mar quem tem a responsabilidade de dar o aval para as construções?
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    • 1 h
  • Francisco Fialho

    As depressões continuarão e respectivos estragos.
    Se alguma vez os políticos forem competentes e se preocuparem exclusivamente com as populações, os problemas serão drasticamente resolvidos.
    Por enquanto, em nome da autonomia, temos jobs for the boys, …

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    • 1 h
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  • Artur Xavier Soares

    Um outro problema é a limpeza dos leitos das ribeiras. Os infestantes (rocas de velha, incensos e acácias) vão ocupando o seu espaço, para não falar nos lixos que alguns teimam em continuar a depositar.

Sobre CHRYS CHRYSTELLO

Chrys Chrystello jornalista, tradutor e presidente da direção da AICL
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