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Pelos 500 Anos do Nascimento de Gaspar Frutuoso
Este ano comemora-se em S. Miguel, nos Açores, os 500 anos do nascimento de Gaspar Frutuoso (Ponta Delgada, c. 1522 — Ribeira Grande, 1591). Não posso deixar passar as comemorações desta efeméride sem o meu contributo, por pequeno que seja. Gaspar Frutuoso é um importante cronista quinhentista, figura notável da ilha de S. Miguel, ilha que foi minha casa durante uma década. E por ali ter vivido e dado aulas de História, cedo me chamou a atenção o lugar que Gaspar Frutuoso ocupava no panorama historiográfico dos Açores. Para além disso, como fui professor na Escola Secundária da Ribeira Grande, isso fez de mim um quase diário visitante do largo onde a estátua de Gaspar Frutuoso, de autoria do escultor açoriano Numídico Bessone, se encontrava. Também por isso, pela presença constante, um dia resolvi dedicar uma parte do meu tempo a conhecer melhor o homem por detrás da estátua e estudar a sua obra. Tal levou a que viesse a contribuir para a sua divulgação, ainda que de forma muito modesta, com o livro “Cinco Cronistas dos Açores : Subsídios para a Historiografia Açoriana”, editado pelo Instituto Histórico da Ilha Terceira, em 1983. A marca distintiva deste estudo é o facto de se encontrarem reunidos, num mesmo texto, os cinco grandes cronistas dos Açores (Gaspar Frutuoso, séc. XVI; Diogo das Chagas, séc. XVI-XVII; Monte Alverne, Manuel Maldonado e António Cordeiro, séc. XVII-XVIII), no qual se aborda, de forma sintetizada e comparativa, as suas obras de maior vulto. Importa realçar que a narrativa histórica açoriana é excepcionalmente rica, mesmo quando se faz a exclusão da numerosa colecção de obras menores, manuscritas ou impressas. O número e, sobretudo, a qualidade dos estudos que foram feitos entre o século XVI e finais de XVII, nos Açores, não tem paralelo em qualquer província de Portugal. E Gaspar Frutuoso, o primeiro dos cronistas em termos cronológicos, é, também, o primeiro quanto à metodologia, fina percepção dos factos e objectivos a atingir. Pela minúcia das suas descrições, pela coordenação metódica dos diversos assuntos que trata e pela vastidão de conhecimentos que mostra possuir, é, sem dúvida, o maior dos cronistas do Açores, senão mesmo do espaço português ao tempo. Era Bacharel em Artes e Teologia pela Universidade de Salamanca e doutor em Teologia, tendo escrito “Saudades da Terra”, a obra que o imortalizaria. O manuscrito original é um códice de 571 folhas, numeradas no retro e reunidas em cadernos de diferentes marcas e dimensões. Está dividido em seis livros, cujos títulos, exceptuando o do Livro VI, foram escritos pela mão do autor, como se deduz da forma e do talho da letra. Esta obra é, no seu conjunto, uma detalhada descrição histórica e geográfica dos Açores, Madeira e Canárias, para além de múltiplas referências a Cabo Verde e a outras regiões atlânticas. Tal vastidão faz de Gaspar Frutuoso um autor que ultrapassa as fronteiras do seu arquipélago natal, cuja obra interessa à maioria dos investigadores das ilhas atlânticas que formam a Macaronésia.
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- ActiveCarlos ArrimarFoi com enorme satisfação e interesse que li o teu texto, Jorge. Mais um notável e oportuno artigo sobre os 500 anos do nascimento de Gaspar Frutuoso, que não podia deixar de partilhar. A este propósito, lembrei-me da apresentação do teu livro, editado…See more
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