CARLOS MELO BENTO, COISAS DA CIDADE

Views: 0

Coisas
São catorze horas e quarenta e cinco minutos, desta terça-feira; caminho para o escritório através do Jardim Sena Freitas; vários jovens estudantes divertem-se convivendo e namorando junto às mesas de que, por vezes, alguns reformados usam para jogar cartas. Perto de uma das grandes janelas de vidro do Hotel que ali há, outro jovem, agachado, acende um isqueiro e queima qualquer coisa junto a um papel prateado, olhando-me desconfiado quando dá por mim a ver a cena; prossigo o caminho e ainda me cruzo com gente muito magra e mal vestida, eles com a barba por fazer, elas hirtas e também magras e mal vestidas. Estão a meia dúzia de metros dos Tribunais de Família e Menores e do Trabalho. Felizmente não há turistas. Sinto uma tristeza profunda e sinto-me impotente para recolocar a nossa querida cidade no esplendor de higiene e limpeza que há tão pouco tempo tínhamos. Tinha pensado escrever sobre a transportadora aérea e da ligação desse instrumento de unidade açórica à açorianidade, tal como a TAP à portugalidade. É impossível imaginar umas sem as outras. Povos dispersos e sem ligações reais deixam de ser povos e passam a ser realidades geográficas com uma vaga ideia dum passado comum. Tinha pensado realmente em escrever sobre isso mas perdi o ânimo. As despesas são gigantescas e os dilemas sociais são mais que muitos. Lembrei-me então do Príncipe de Mónaco e da alegria que deve ter sido (e foi) a sua visita a esta terra, há cem anos com cientistas do melhor que havia no mundo, em cujo mapa aquele aristocrata culto nos colocou, com o seu gesto. Conheci o neto e homónimo, em casa de Augusto Ataíde, no Jardim José do Canto e foi um dos momentos encantadores que esta Terra continua a proporcionar-nos. Quem dera que pudéssemos ter de novo a alegria que a nossa indiferença afastou, a coberto da nossa aparente indiferença.
Nuno Barata Almeida Sousa, TóZé Almeida and 94 others
18 comments
1 share
Like

Comment
Share
18 comments
All comments

  • Rui Resendes

    “O ócio é a oficina do diabo”…. talvez a recuperação de alguns pudesse ser iniciada por retirá los compulsivamente do ócio e talvez entregá los a trabalhos ligados à terra, ou com animais, ou etc, para ocuparem a cabeça e o tempo (obrigatória e comp…

    See more
    2
    • Like

    • Reply
    • 3 h
  • Duarte S Pereira

    A Plus texto !
    • Like

    • Reply
    • 3 h
  • David Soares Dias

    “Mudam-se os tempos…”. Infelizmente “A procissão ainda vai no adro”… Aparentemente ninguém põe fim ao chocante quão repugnante flagelo que ameaça, vergonhosa e ameacadoramente, o devir.
    2
    • Like

    • Reply
    • 3 h
  • Carminha Medeiros

    Sinais dos tempos modernos e degradantes 😔 muito difícil regenerar pois não querem ser ajudados🤨 entristece a alma 😢
    3
    • Like

    • Reply
    • 3 h
    • Jorge Pereira da Silva

      Carminha Medeiros nao querem é nós ou os nossos governantes desistirem de um assunto dificil e trabalhoso, basta ver como e quanto apoiam a Associação Arrisca, nem um edifício de raiz, o solar da Glória foi adaptado para este fim, e à mais de 5 anos fechado.
      • Like

      • Reply
      • 2 h
    • Carlos Maiato

      Carminha Medeiros não te que preocupes, o Tourismo vai resolver isso tudo 😀
      • Like

      • Reply
      • 1 h
    • Like

    • Reply
    • 3 h
  • Lucia Medeiros Cabral

    Muito Gostei de LER o SEU ARTIGO.
    Afinal sempre existe coracoes bons que PENSAM Na DESGRACA dos mais FRACOS.😥😥😥😥😥😥
    AI SE…

    See more
    4
    • Like

    • Reply
    • 2 h
  • Antonio Tavares

    Tristeza, grande abraço Dr Carlos Melo Bento
    • Like

    • Reply
    • 2 h
  • Jorge Pereira da Silva

    É muito triste, é minhs opinião mais para eles que se meteram num buraco social que nao é facil sair, buraco que os leva para um vida marginal e criminosa.
    Para nós e no Seu caso Doutor é deveres contragedor assistir uma juventude perdida, todos ou i…

    See more
    • Like

    • Reply
    • 2 h
  • Leonor Januario

    Qualquer um destes artigos sao dignos de se ler pois e a pura da verdade infelizmente e e lamantavel da maneira que o mundo se tornou, tenha um dia otimo ❤
    • Like

    • Reply
    • 2 h
  • Eduardo Jorge Melo

    Degradação a que alguns talvez tenham vontade de designar: “progresso”. Pontos de vista… há quem olhe para cima, outros olham para baixo.
    • Like

    • Reply
    • 2 h
  • Active
    Alexandrina Bettencourt

    Muito triste ao que se chegou…uma sociedade degradante..
    • Like

    • Reply
    • 2 h
  • Luis Alberto

    Parabéns

    belas palavras para refletir.

    • Like

    • Reply
    • 2 h
  • Luis Matos

    Como é bom apreciar e sentir que ainda há pessoas que não conseguem ficar indiferentes ao que se passa ao seu redor, nesta nossa cidade. Obrigado, professor!
    • Like

    • Reply
    • 2 h
  • Maria Isabel Camacho-Santos

    Fica-nos a esperança.
    • Like

    • Reply
    • 1 h
  • Luis Ferreira

    Infelizmente Tudo verdades SR.DOUTOR. Meu Antigo Professor de História. Mas o que se pode fazer numa triste sociedade de hoje a contrastar com a felicidade de outrora. Drogas… Drogas… Drogas…
    • Like

    • Reply
    • 1 h
  • Ló Rego Costa

    É muito triste! Mas tanto faz que haja turistas a assistir ou não. A cidade é de quem aqui reside, que tem vindo a perder qualidade de vida, de dia para dia. Já agora, o actual Príncipe do Mónaco deve estar perto a aparecer por cá.
    • Like

    • Reply
    • 1 h
  • Artur Neto

    Verdade meu caro professor de quem eu tenho boas memórias, gratidão e saudades de tudo o que aprendi e ficou para o resto da vida, Abraço fraterno.
    • Like

    • Reply
    • 1 h

Mais artigos