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Compra de acionista de porto timorense pode beneficiar infraestrutura – empresa
*** António Sampaio, da agência Lusa ***
Tibar, Timor-Leste, 20 set 2022 (Lusa) – A compra anunciada pela Mediterranean Shipping Company (MSC) da Bolloré África Logistics (BAL), concessionária do porto de Tibar em Timor-Leste, poderá trazer vantagens adicionais à infraestrutura que entra em funcionamento a 30 de setembro, disseram responsáveis.
“Essa parte do grupo Bolloré vai passar a fazer parte do grupo MSC, uma empresa de grande dimensão, com uma grande rede na Ásia. E nós faremos parte desta grande rede e isso será bom para o porto”, disse à Lusa o diretor executivo da Bolloré para portos e concessões, Olivier De Noray.
“Já com o Bolloré não teríamos qualquer problema, mas com a MSC será ainda mais fácil porque o grupo tem muitos serviços que se complementam. Começaremos com importação e exportação, mas poderá haver outros projetos incluindo transbordo”, referiu.
No final de março, foi alcançado um acordo para a compra da BAL pela MSC, numa operação com o valor total de 5,7 mil milhões de euros e que aguarda apenas a aprovação dos reguladores.
A BAL é a maior acionista do porto de Tibar, com 99% das ações, e a MSC é, desde final de 2021, a maior operadora de transporte de contentores do mundo, com um total de 570 navios de contentores capazes de transportar quase quatro milhões de TEU [unidade de medida para a capacidade de contentores].
Com a MSC ao comando, ao ‘know-how’ da Bolloré soma-se a própria rede da MSC, que terá uma infraestrutura de última geração e elevada capacidade numa região entre dois ‘gigantes’, a Austrália e a Indonésia.
Além disso, na calha, por exemplo, está ainda um outro projeto adicional, e ainda em negociações, relacionado com o fim de vida, no próximo ano, do campo petrolífero de Bayu-Undan, no mar de Timor, operado pela Santos.
Richard Hinkley, da Santos, explicou recentemente à Lusa, em Darwin, que a empresa quer trazer para Tibar um navio que serve atualmente como estrutura de armazenamento ‘offshore’ e que será desmantelado em Timor-Leste, numa operação que estima custará cerca de 100 milhões de dólares (99,6 milhões de euros).
Laurent Palayer, diretor executivo do Timor Port, nome oficial do porto da baía de Tibar, disse à Lusa que mesmo só com as operações atuais em Timor-Leste, o projeto é lucrativo, rejeitando os que dizem que será um ‘elefante branco’ e argumentando que a maior dimensão do projeto permitirá uma expansão imediata.
“O Governo decidiu construir ‘grande’ desde o início. E a experiência que temos, é que quando fazemos algo de maior dimensão, mesmo que possa parecer demasiado grande no início, atrai muito mais volume de negócio”, disse.
“É um porto de tamanho idêntico ao de Kupang [Timor Ocidental], o nosso concorrente mais próximo. É melhor que o de Darwin e no que toca ao equipamento é mais moderno e com mais potencial que ambos”, disse.
Palayer referiu que “há muitas empresas que operam na região e que nunca pensaram em Timor-Leste”, e que a infraestrutura permite navios de maior dimensão, sem grua e, por isso, com oportunidades adicionais para o país.
“Agora há condições para aproveitarem Timor-Leste que está muito bem localizado. E importa recordar que este concurso foi desenhado com o apoio da IFC, com análises detalhadas e cálculos que decidiram o grau de tarifa que é fixo e que foi proposto aos concorrentes do concurso”, afirmou.
“Sabemos que isto não vai ser o porto de Singapura. Mas sabemos que mesmo que com o nível de operações atual não vamos perder. Mas no futuro penso que todos ficarão surpreendidos. O setor de transportes marítimos quando sabe que há um novo espaço, bem localizado, entre dois grandes vizinhos, quer aproveitar e isso representa um grande potencial para Timor-Leste”, afirmou.
O responsável do Timor Port defendeu que a infraestrutura é ao mesmo tempo “um dos instrumentos do país para começar o processo de industrialização, para atrair investidores”, notando que as empresas Mariana e PIL enviaram já uma delegação ao país e quiseram ser os primeiros a operar na infraestrutura.
“Dizem que têm recusado marcações de Singapura por haver falta de capacidade para Díli, e recusam contentores para Timor-Leste, porque têm que chegar com navios muito pequenos. Isto é um grande obstáculo para o país”, afirmou.
Olivier De Noray mostrou-se confiante, explicando que um projeto desta dimensão obrigada a várias fases, desde convencer as autoridades a avançar no modelo de parceria público-privada, a primeira em Timor-Leste, “depois fazer o concurso e garantir que as empresas envolvidas fazem um bom trabalho”.
“Depois é preciso construir o projeto e agora é a fase seguinte, começar a atrair o mercado. Esse é o próximo passo. Temos que atrair o mercado”, referiu.
“Timor-Leste fica com um porto de cariz global, com capacidade para acolher todo o tipo de navios. E para Timor-Leste é uma boa oportunidade de ter um ponto de logísticos para tudo. O preço será melhor para os clientes em Timor-Leste e para facilitar as exportações, eliminando barreiras. É um instrumento importante para a economia timorense”, disse.
ASP // EJ
Lusa/Fim