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OS «CADERNOS AÇOREANOS»
– literatura em tempos de náusea*
FOTOS: Sara Bettencourt.
No colóquio que decorre na Universidade dos Açores, a minha intervenção abordou a questão dos «cadernos açoreanos», um projecto editorial de literatura e cultura popular, em fascículos e por assinatura, lançado em 1950 (Julho) por Pedro da Silveira: era uma tentativa de atenuar a precária situação editorial nos Açores e sobretudo a inexistência de uma consistente distribuição inter-ilhas.
O prospecto com os nomes dos autores participantes (fotos 1 e 2) aproveitava o verso para registar o nomes dos eventuais assinantes.
Em Setembro de 1950, o órgão da salazarista Frente Académica Patriota (foto 3) denunciava em Lisboa o projecto, com base em «informação» bufada de Ponta Delgada por um «protegido do chefe fascista local» (palavras de Pedro da Silveira). Uma iniciativa literária tornara-se um caso de perseguição política. A partir daí, nenhuma tipografia quis arriscar-se a pegar numa coisa dessas.
Em Março de 1951 Pedro da Silveira fixou-se definitivamente em Lisboa, e pensou retomar o projecto.
Analisando as cartas do poeta florentino enviadas ao seu amigo Manuel Sousa de Oliveira durante os anos seguintes, é possível seguir o rumo dos acontecimentos e vicissitudes várias, os pedidos de colaboração, as dificuldades, os dinheiros angariados com as assinaturas.
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Agradeço à Fundação Sousa d’Oliveira a cedência da cópia digitalizada das cartas de Pedro da Silveira, entretanto editadas este mês como forma de celebrar o centenário de Pedro da Silveira.
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* O meu subtítulo decalca o título de uma sequência poética de Pedro da Silveira, «Poetas em tempos de náusea» – homenagem a 3 poetas (Anna Akhmátova, Emilio Prados e Carlos Maria de Araújo), cada um deles a contas com… ou em fuga ao respectivo -ismo interno: o estalinismo, o franquismo e o salazarismo.