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CRÓNICA 479 DO TURISMO À LITERATURA AÇORIANA AGO 2022
Ando , há dias, a passear turistas nesta ilha do Arcanjo. No Pico do Ferro, sobranceiro à Lagoa das Furnas, duas viaturas de aluguer ocupavam lugares reservados a deficientes. Como falavam português deviam ser iletrados e não sabiam ler. O mesmo se passava na descida da Lagoa do Fogo a 200 m do parque do estacionamento. Claro que sem PSP, nem fiscalização, a viatura em que viajava e ostentava o dístico não pode parar e teve de buscar outras paragens. Na esplanada do Hotel no Parque Terra Nostra um funcionário usava o termo vocês com os clientes. Se soubesse o nome deles seria capaz de lhes chamar António e Rosa e tratá-los-ia por tu. Foi lá que outro funcionário , bem jovem me admoestou, chamando-me a atenção por me ter sentado numa mesa que vagara, dizendo que as normas internas diziam que as pessoas só se podiam sentar depois de terem levantado o que estava na mesa. Pena foi que só depois de lhe pedir para limpar a mesa, ao fim de vinte minutos, se apercebesse do erro contra os regulamentos. Pelos vistos não há 4 estrelas que cheguem naquele hotel para ensinar o pessoal a receber clientes. Nada de novo, a tudo isto assisti desde que há dezoito anos arribei nas ilhas.
Em volta, em todas as mesas não havia diálogo pois os seus ocupantes estavam ocupados a teclar nos seus “smartphones” nesta Torre de babel linguística que só se vislumbrava quando encomendavam comida e bebidas. Vejo na sinalética que são proibidos cães e pessoas em fato de banho. Deve ser em nome da decência e dos bons costumes. Pena não pedirem aos clientes para serem civilizados e bem-educados, nessa turba que enchia os dois níveis da esplanada.
A galinha dos ovos de ouro de turismo levava alguém a queixar-se hoje num fórum açoriano que havia empresários do turismo preocupados com o problemas das “rent-a-car” cobrarem 300 euros ao dia pelo aluguer de viatura. Diziam que havia abusos escandalosos nos preços cobrados por táxis e empresas de “Tours”.
Os trilhos cheios, maltratados e sujos (que muita desta gente é pouco dada a ecologias) , o recorde de subidas ao Pico, e outros problemas irão levar a que a mãe-natureza comece a sentir a deterioração da beleza imaculada das ilhas e um dia a galinha começará a pôr ovos de cobre e não de ouro, reluzem mas nada valem. Continua a faltar uma visão global do que se pretende na política do turismo mas continua a rumar-se a um turismo de massas que não nos interessa nem se adequa às ilhas. Pode interessar no presente para lucros rápidos mas compromete um futuro sustentável.
Uma última nota. Em mais de seis dezenas de convivas apenas nós dois líamos livros em papel, à boa moda de antigamente. Sinal dos tempos ou da nossa idade? Curiosamente, os livros eram ambos de literatura açoriana, categoria única, que bem merecia melhor divulgação nacional e internacional, pela qualidade e variedade dos seus escritos, com uma nova vaga de autores cheios de pujança e criatividade. A maior parte deles (mais de meia centena) estará em outubro, em Ponta Delgada no 36º colóquio da lusofonia, a celebrar os vintes anos de colóquios. Autores que ao longo destes anos temos vindo a musicar e traduzir tentando levar a sua escrita a novas paragens e leitores.
etsa e anteriores crónicas em https://www.lusofonias.net/mais/as-ana-chronicas-acorianas.html
Chrys Chrystello, drchryschrystello@journalist.comJornalista, Membro Honorário Vitalício nº 297713[Australian Journalists’ Association – MEEA]Diário dos Açores (desde 2018)Diário de Trás-os-Montes (desde 2005)Tribuna das Ilhas (desde 2019)Jornal LusoPress Québec, Canadá (desde 2020)Jornal do Pico (desde 2021) |