absurda carga fiscal

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Sempre que entrevisto miudagem a caminho de uma vida no Ártico, algures no processo vem a pergunta sobre o custo de vida. A minha resposta, já gasta e repetida 500 vezes, é que tudo, à excepcão do supermercado e do vinho, é mais barato ou tem um custo idêntico ao português. A conversa dos carros surge sempre como exemplo da carga fiscal tal é a diferenca absolutamente pornográfica de precos.
Não é propriamente uma grande revelacão se vos disser que nos primeiros 3 meses de 2022, no top 5 de carros mais vendidos em Portugal estão 3 peugeot, um renault (clio) e um citroen (c3).
A carga fiscal é tão grande que para a bolsa de um português, um renault clio com um motor de um corta relva é um luxo que, quase novo, custa mais de 20 000 euros. Na Suécia, o mesmo carro, com 0 km, custa menos 3000 euros.
Nas ilhas, a este cenário dantesco, juntam-se os custos do transporte. O resultado final é tão disparatado que acabamos a discutir precos de carros com 20 ou 30 anos e 4 voltas dadas ao mundo como se tivessem saído das fábricas ontem.
Ando tentado a lancar-me na agricultura do mirtilo e das framboesas e, enquanto não arranjo 3 nepaleses para explorar, vou-me entretendo a procurar um veículo para carregar caixotes, pranchas, bicicletas e todas essas coisas que um jovem agricultor faz nas ilhas de bruma. Ou apenas para percorrer as estradas sem cair nas crateras a que por aqui se chamam, carinhosamente, de buracos.
Invariavelmente acabo as minhas pesquisas e conversas com um “como é que é possível?”. Aqui e ali assumo alguma irritacão, nada de muito grave, só aquele “f****** mas está tudo doido?” da praxe.
Um senhor, dono de um stand, dizia-me que aquela carrinha, praticamente nova com cerca de 30 anos, estava impecável. E que até me fazia um desconto dos 10 000 euros. Sempre que alguém me dirige este tipo de palavras eu fico a pensar se terei algum “O” na testa.
Depois de falar com dezenas de pessoas, privados e comerciais, percebo que não. A culpa não é deles. A carga fiscal é tão, mas tão grande, que qualquer charuto velho custa o triplo do que custaria num país onde o Estado não asfixia as pessoas em impostos (que ainda por cima não lhes são devolvidos em servicos).
É que esse é que é o drama. Se uma toyota de 1985 custasse 10 000 euros por causa da carga fiscal mas depois, os putos aqui da freguesia, tivessem uma creche gratuita, tudo bem. Agora quando a carga fiscal se destina a tapar buracos do BES, do Rendeiro e das PPPs, eu já tenho alguma dificuldade em aceitar tais disparidades.
O mesmo carro velho, pensado pelo jovem agricultor, custa 3 vezes menos na Suécia, essa terra de gente pobre.
Uma pessoa quer lancar-se nos mercados, explorar nepaleses e ser gestor de unicórnios e o sistema não permite.
Vou antes esperar pelo PRR. Estou certo que alguma fatia me caberá.
May be an image of jeep, car, road and text
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2 comments
  • Nuno Miguel Dias

    Muito cuidado porque esses “Nissan” têm motor Renault. Se comprares uma Pick-up Nissan com motor (e carroçaria) Nissan dos anos 90 (D21) pagas muito menos e, no entanto, tens ZERO problemas durante muito mais anos. Quando estiver a cair de podre, lá pa…

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  • Mariana Santos Martins

    “I started from nothing… It was just me, that old computer, and ten million dollars my father gave me…”
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