as nuvens e o meu fascínio

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59.5. FUNCHAL – PORTO
FUNCHAL – PORTO

Sempre me fascinaram as nuvens. Do avião são castelos de neve, montanhas em movimentos perpétuos como algodão doce nas feiras de antigamente. Ensimesmado, fascino-me a observá-las como se pudesse pará-las, imóveis para a eternidade, como a neve perene do Kilimanjaro.

Cirros, cacho de cabelo, altas, delicadas, fibrosas, esbranquiçadas, aspeto de penas ou flocos de lã. Pairam a 9 km, finas e compridas formam-se no topo da troposfera, em estruturas alongadas e permitem inferir a direção do vento (geralmente W). indicam bom tempo.Cirros-cúmulos, bolinhas pequenas e brancas, em bancos ou campos de nuvens. Constituídas por cristais de gelo, aparecem raramente, menos vistas do que os cirros. Surgem como pequenos pufes, redondos e brancos, individualmente ou em longas fileiras. Ocupam grande porção de céu.
Cirro-estratos, véu esbranquiçado, fibroso, mais espesso que cirros, constituído por cristais de gelo. Nuvens finas cobrem todo o céu. Como a luz atravessa os cristais que as constituem, dá-se refração, dando origem a halos. Na aproximação de uma forte tempestade, surgem muito frequentemente e, dão uma pista para a previsão de chuva ou neve em 12- 24h.Alto-cúmulos, “carneirinhos,” novelos de gotas de água, com bordos claros e zonas sombreadas no interior, em faixas alongadas, quase nunca ultrapassam 1 km de espessura. Têm forma de tufos de algodão e distinguem-se dos cirros-cúmulos, um dos lados mais escuro que o outro. Em manhã quente de verão pode ser sinal de trovoada ao final da tarde
Alto-estratos, véu uniforme, cinzento-azulado, o Sol surge enfraquecido. Com gotículas de água e cristais de gelo, flocos de neve. Semelhantes aos cirrostratos, mais espessas e a base mais baixa. Cobrem o céu. O Sol muito ténue sem halos. Uma forma de os distinguir é olhar para o chão e procurar sombras. Se existirem, as nuvens não são alto-estrato pois a luz que as atravessa não produz sombras.Nimbo-estratos, espessas nuvens baixas, cinzentas-escuras, base inferior de nuvens esfarrapadas, com chuva que pode não atingir o solo. temperaturas mais baixas que aquela em que ocorre a solidificação, são gotas de chuva, flocos e cristais de neve, ou mistura de formas sólidas e líquidas. Estão associados a chuva contínua, são em geral de um cinzento mais escuro e normalmente nunca se vê o Sol através deles.
Estratocúmulos, brancos ou cinzentos, arredondados, dispersos, em bancos, camada horizontal pouco espessa, partículas de gelo misturadas com gotas líquidas. Normalmente vê-se céu azul nos espaços entre elas. Produzem-se a partir de cúmulos no pôr-do-sol. Diferem dos altos-cúmulos, base mais baixa, provocam aguaceiros se se desenvolvem verticalmente em nuvens maiores e os topos atingirem -5 ºC.Estrato, de stratus, nuvens típicas dos crepúsculos, baixas, alongadas e horizontais, em camadas uniformes, sem estrutura visível. São constituídas por gotas de água ou, se a temperatura for baixa, por partículas de gelo. Habitualmente cobrem todo o céu e lembram um nevoeiro que não toca no chão. Normalmente não originam precipitação, que, a ocorrer, é chuvisco.
Cúmulo, nuvens, arredondadas no topo, majestosas, como montanhas de algodão, base plana quase horizontal. Indicam bom tempo, distam 1-2 km do solo. Surgem isoladas, diferem dos estratocúmulos, têm topo mais arredondado, normalmente bom tempo, associadas a dias soalheiros.Cúmulos-nimbos na parte superior dos cúmulos forma a bigorna, por granizo, neve ou gelo. com variedade de formas, a mais vulgar é um bocado de algodão. A base vai do branco ao cinzento claro, nuvens de tempestade, (trovoadas, aguaceiros, granizo e tornados). Estendem-se de 600 m à tropopausa (12 000 m).

Por instantes, voam na direção oposta a fugir ao volátil destino. Há-as de todos os tamanhos e feitios. Tenho o desejo incontido de abrir a porta de emergência do avião e agarrá-las. Esfarelá-las e espalhá-las aos quatro ventos. Senti, muitas vezes, a vontade irreprimível de surfar nelas sobre o imenso oceano que separa o Funchal do Porto.

Nos céus imensos havia outras, altas e misteriosas, quase invisíveis, etéreas. Farrapos de nada arrancados à vida. Sombras quase invisíveis, talvez espíritos, quem sabe? fugazes como o tempo, sem rasto nem assinatura. Um dia, irei com elas, hoje não posso, há a viagem por acabar.

Este fascínio já o persigo desde 1973. As que vi hoje eram um encanto, acumulavam-se como uma enorme família de todos os formatos, ora crescendo, ora reduzidas a fiapos, ora engrossando como enormes planícies de melancolia esbranquiçada crescendo em montes e montanhas. Fugiam sempre. Tinham medo de serem agarradas, evitavam o meu olhar com medo de serem aprisionadas, ou devoradas por este Airbus 320, monstro tonitruante de metal que as violava, perfurando-as como a espada de S. Jorge trespassara o Dragão. Ficavam para trás, doridas, descompostas, sem dignidade, mas cedo se recompunham e recomeçavam novo ciclo.

Se alguém as apanhar, antes de mim, pode quebrar o ciclo vital, deixar de acumular o orvalho para converter em chuva que rega montanhas e fazem jorrar os rios. Sem elas não havia vida e não podemos interromper a etapa, mesmo nós caçadores de nuvens.