o mundo mudou luis filipe sarmento

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O mundo mudou. É o que repetem as vozes do dono em todos os programas televisivos. Repetem. Replicam-se. Basta ouvirem alguém manifestar uma expressão com algum impacto, logo vêm os comentadores amestrados, em manifestação assertórica, reiterá-la vezes sem conta como se tivessem na posse da última verdade, revelada ali, em primeira mão, nos estúdios do canal onde são assalariados ou avençados, ao serviço de espectros que os manipulam com o rigor mefistofélico a partir das suas fortalezas contra todo o tipo de mudanças.
Não sei se estarei enganado, mas creio que o mundo, desde a sua formação há 4,6 bilhões de anos, não tem feito outra coisa senão mudar. Ora os videirinhos da comunicação associal ou, se preferirem, anti-social, na plenitude da sua inteligência formatada e pervertida nos laboratórios neoliberais, só agora é que verificaram que o mundo muda. E ficaram deslumbrados com a sua descoberta. E papagueiam-na com a autoridade dada aos papagaios que, sem saberem o que dizem, repetem-na até à exaustão.
Desde que tenho consciência da minha entidade vejo o mundo mudar todos os dias. Muda a todos os minutos. Muda, desde logo, com o nascimento e morte de pessoas. O mundo mudou quando arrefeceu, quando a vida surgiu à sua superfície há cerca de um bilhão de anos, com a alteração da biosfera e todos os outros fenómenos que foram dando novas configurações ao planeta. Muda, mudando, fruto do acaso cósmico ou da intervenção humana desde os seus primórdios.
O mundo mudou quando os humanos observaram o ecrã nocturno dos céus, quando inventaram o ecrã do cinema, quando o pequeno ecrã entrou no quotidiano das pessoas; o mundo muda cada vez que um novo ecrã é criado. O mundo muda com a queda de meteoritos e de bombas. O mundo muda com a inteligência e com a estupidez dos humanos. Não há nada que seja estático, permanente, estável, ou seja, o mundo muda.
E mudará, com a segurança da inevitabilidade universal, quando a prática criminosa do neoliberalismo desaparecer e com ele os papagaios das armas de comunicação, que disparam contra a nossa inteligência, deslumbrados com a descoberta de que o mundo muda. E o mundo mudará, mais uma vez, libertando-se desta escória ignorante, altiva e arrogante, deste subproduto da humanidade, que nos infecta a existência. Porque o mundo muda. Simplesmente.
Foto de José Poiares photography
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  • Cristina Rito

    “Não sei se estarei enganado, mas creio que o mundo, desde a sua formação há 4,6 bilhões de anos, não tem feito outra coisa senão mudar.” Está completa e absolutamente certo! 😉
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  • Maria Teresa Carrapato

    Claro. É querer protagonismo, chamar a atenção sobre si próprio, como se fosse o inventor ou descobridor de algo de extraordinário.
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