Opinião de Miguel Esteves Cardoso, no jornal Público de 24 de Fevereiro de 2022.
Nisto das guerras, também há uma guerra escondida que convém destapar: a guerra entre quem odeia todas as guerras, sejam elas quais forem, e quem arranja sempre desculpa para as guerras, sejam elas quais forem.
Nas reacções às agressões de Putin aprende-se mais sobre os espectadores do que sobre os intervenientes: há quem aprecie o espectáculo e não se dê ao trabalho de disfarçar.
Felizmente, há regras antigas que nos levam a tomar logo o lado da Ucrânia.
É a regra contra os bullies.
É a regra contra os fortes que batem nos fracos.
É a regra contra a prepotência e contra a arrogância.
É a regra que nos leva a apoiar quem está na mó de baixo.
É a regra que nos leva a distinguir entre o agressor e a vítima.
Todas estas regras estão acima das razões concretas.
Todas estas regras estão acima da geoestratégia.
Todas estas regras estão acima da análise histórica e política.
E todas elas estão acima de esquerda e direita.
Há dois países em causa: a Rússia e a Ucrânia.
A Rússia agrediu a Ucrânia.
A Rússia é maior e mais forte do que a Ucrânia.
E a Ucrânia está sozinha.
Uma amiga ucraniana disse-me uma vez que os EUA e a Rússia eram iguais: eram dois caubóis com a mania de que o mundo era deles.
Ela preferia o caubói russo – mas não gostava de escolher.
Nós também podemos escolher entre os EUA e a Rússia mas a invasão da Ucrânia é a invasão da Ucrânia.
É a invasão da Ucrânia pela Rússia.
Não é a invasão da Ucrânia pelos inimigos dos EUA.
Complique-se o que se quiser complicar, a questão da Ucrânia é muito simples e exige de nós uma resposta igualmente simples: estar totalmente do lado da Ucrânia e totalmente contra a Rússia.
O resto é interessantíssimo – mas é secundário.