PEDRO DA SILVEIRA: POETAS EM TEMPOS DE NÁUSEA

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PEDRO DA SILVEIRA:
POETAS EM TEMPOS DE NÁUSEA
1. Anna Akmátova
À Maria Alexandre Dáskalos
e à Maria Manuela Margarido
Em primeiro lugar e de esperança acordada,
pensemos que as tiranias também têm fim.
Os tiranos podem, à vontade, dispor
das nossas vidas como quem quebra a levada
de uma água que pertence ao povo todo,
mas contra a morte o seu império
perde o domínio imaginado
senhor de todos os destinos.
Em segundo lugar (com aquilo) vale sempre
durante e para depois ter-se guardado
bem no fundo do coração a saudade
dos lilases e do verde – os verdes –
dos prados e das altas árvores antigas.
Assim como o glauco esperto do mar
quando se ia, por exemplo,
de Tsarkoie Selò para
a praia querida de Streletskaia.
– Mesmo que não voltemos mais
a nenhum dos lugares amados.
Finalmente, e embora amargue,
tenha-se como bom conselho
não esquecer nunca o pesadelo.
(Fui ao mar buscar laranjas; Angra: IAC, 2019)
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