AS “TIAS” DOS MOINHOS de Porto Formoso – 8 AGO 2009, CRÓNICA 70

Views: 0

AS “TIAS” DOS MOINHOS de Porto Formoso – 8 AGO 2009, CRÓNICA 70

 

Uma micaelense, entradota na idade, disfarçava um bocejo dizendo que os novos balneários dos Moinhos pareciam masmorras de betão. A ignorância não paga imposto. Quem vira as precedentes instalações insalubres, apreciava a obra, moldada na paisagem sem ser agressiva, de estética moderna valorizando o mobiliário urbano, o ambiente e a saúde pública, mas ia contra privilégios, ao sogro pertenceram casas ora devassadas, conforme apregoava alto e bom som.

Ri-me evocando o bidé das marquesas em S. Martinho do Porto (nos verões do meu descontentamento matrimonial) mas não havia comparação em possidonice. Faltava a sofisticação das “tias.” Complexo de inferioridade ilhéu dissimulado? Os ingleses usam uma expressão maravilhosa, name-dropping,. Não mencionou que era da universidade, já que esta gente vomita o currículo em voz alta nas esplanadas. Na Austrália nunca soube, nem estava interessado, nas habilitações dos que me rodeavam. Aqui andam coladas à cara como se fizessem parte do BI.

Na amada Austrália tais espécimes só se avistam em zoológicos na secção em vias de extinção. Trabalhei com execráveis exemplos de australianos de sexta geração, nados e criados no continente-ilha, muito britânicos, mais do que os próprios.

Há solidões solitárias e multidões ermas, faltam-me tertúlias como as do fim do Liceu D. Manuel II com amigos como o José António Salcedo, e na faculdade de Economia. Já tivemos, um arremedo de reuniões nas longas noites de invernia insular, no bar dos Moinhos, com o Manuel Sá Couto, Daniel de Sá, Urbano Bettencourt, Victor Hugo Forjaz, Graça e João Carlos Nóbrega e outros, que iam e vinham consoante a chuva, o frio e a humidade ilhoa que desperta a vontade inaudita de contacto humano. Todos à deriva neste imenso Mar Oceano.

Não há Derrida que me salve nem Piaget que me explique.

Dei comigo a sorrir, facto inusitado e deveras inopinado. Divago, a chuvarada abranda. Que as avalanchas me sejam leves. Acordaram um vulcão. Todos conhecem o perigo dos vulcões endormidos, não podem ser perturbados, como os ursos hibernados. Nunca se sabe o que podem fazer quando enraivecidos, e derramam lava sob a forma escrita. Há o perigo de expelirem raivas ancestrais incontidas, sofrimentos amarfanhados, dores insofridas, paixões por materializar à espera do juízo final. Como se tudo tivesse de ser dito já e agora, sob pena de se perder o momento, a janela do tempo que permite ser quem somos, sem máscara ou peia.