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Chamava-se Zaki. Zaki Anwari. Havia nascido em 2002, sem ter vivido sequer o dia, do outro lado do mundo, que tudo despontou. Era um jovem atleta nacional, futebolista afegão. Pereceu no passado dia 16, caído de um avião da Força Aérea americana que descolou com dezenas de vidas agarradas ao seu exterior. Tinha 17 anos. Usava a camisola 10. Nasceu, cresceu e viveu num país em guerra, mas com esperança de este ser diferente do que fora. Não houve um dia da sua existência que não houvesse sido moldado por terrores, invasões e políticas das quais não poderia ser mais alheado. Era um miúdo que jogava à bola. Usava a camisola 10. Era um miúdo que queria, pelo menos, que o futuro continuasse sem um regresso ao negrume que ouvira dos seus pais, mas que ele, com os seus olhos e direitos, não havia presenciado. Quando caiu, crente de que a aeronave dos Estados Unidos não levantaria voo com gente colada às suas rodas, era desse negrume que ansiava escapar. Quando caiu, no momento em que caiu, o negrume havia triunfado. Usava a camisola 10.
Source: Os homens em queda