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Bom dia este é o seu Expresso Curto
Um presidente, um americano e o frango dos ovos de ouro
Pedro Candeias | Expresso | Ilustração Hélder Oliveira
Bom dia,
O que poderia ter sido o início de uma secreta mas frutuosa amizade entre um presidente de um clube de futebol, um investidor norte-americano de Hollywood e um entrepreneur português de primeira água resultou numa confusão dos diabos. Houve buscas, detenções, interrogatórios, medidas de coação, um despacho de indiciação de quase 300 páginas e depois muitos comunicados. Nem todas estas coisas nem todas estas informações estavam exclusivamente relacionadas com este trio improvável – recordemo-nos do discreto e solitário empresário da bola –, mas as ligações entre Luís Filipe Vieira, John Textor e José António dos Santos acrescentaram outro brilhozinho mediático à Operação Cartão Vermelho.
Afinal, não se discutiam apenas as alegadas más-práticas comissionistas em transferências de jogadores e uma OPA esquisita que já fora declarada ilegal; agora estavam em causa supostos esquemas financeiros que punham em causa dinheiros públicos e também a venda encapotada de parte substancial das ações de uma empresa cotada em bolsa sujeita, por isso, a regras apertadas do mercado.
O que veio a seguir não deixou a CMVM sossegada. Em primeiro lugar, Textor disse nada; em segundo lugar, disse ter conhecido José António dos Santos no mundo da alta finança e que era só mais um fã do Benfica; em terceiro, quarto e quinto lugares, disse que não tinha comprado ações para a seguir saber-se que empatou um milhão de euros nelas e que até estivera no Seixal onde conhecera pessoalmente Luís Filipe Vieira. E que era um mãos-largas quando o assunto era futebol.
Do diz-que-disse, a CMVM passou à prática: é tempo de investigar, porque “os eventos das últimas semanas evidenciam infrações passíveis de fazer perigar a integridade do funcionamento do mercado de capitais e a proteção dos investidores, nomeadamente na divulgação de informação ao mercado e de abuso de informação”.
Traduzindo: se o leitor está interessado em investir no empréstimo obrigacionista (35 milhões de euros) da Benfica SAD, cujo prazo termina esta sexta-feira (23 de julho), o melhor é ter cuidado. Um conselho da CMVM.
Não é para menos, na medida em que o clube se encontra num processo acelerado de demarcação do homem que o presidiu durante 18 anos. Há um nome a salvar, negócios a fazer, uma época a preparar e, assim sendo, a administração que sempre estivera com Luís Filipe Vieira cortou radicalmente o cordão que ligava as partes e erigiu uma cerca à volta deste. Foi assim que o fez: Rui Costa assumiu a presidência, o clube anunciou eleições antecipadas até final do ano, a Benfica SAD seguiu o artigo 401.º do Código das Sociedades Comerciais e abriu a porta à renúncia de Vieira.
Neste jogo reputacional, o momento seguinte é o da “averiguação interna” para determinar o que se terá passado lá dentro que tenha possibilitado todo este alegadamente. Resta saber se este passo não é demasiado curto para a crítica que exige uma auditoria forense às contas do clube, um exercício que ultrapasse o deve e haver contabilístico e se foque nas relações interpessoais na administração.
OUTRAS NOTÍCIAS
COVID-19. Em Inglaterra chamaram-lhe “Freedom Day”, pois foi o dia em que os ingleses se libertaram da máscara, o símbolo das restrições em tempo de pandemia. Decretou-se o fim do distanciamento social de segurança, deixou de haver lotações-limite e abriram-se os bares e as discotecas – e ao mesmo tempo aconselhou-se o uso indoor da máscara, a distância de segurança e apelou-se ao sentido da responsabilidade individual. Tudo demasiado confuso e a confusión de confusiones foi o Governo comunicar uma coisa e o seu contrário enquanto o já vacinado Boris Johnson se encontrava em isolamento profilático e o número de casos do país se aproximava do de janeiro. Estas histórias de portugueses (e de um brasileiro-britânico) em Inglaterra tentam explicar o contraste; estas conversas com gente do Algarve tentam enquadrar o turismo na região. Finalmente, um explicador sobre o tema da obrigatoriedade da vacinação em Portugal.
Justiça. O caso Ihor não acabou: o Ministério Público quer levar a julgamento outros sete homens, cinco elementos do SEF e dois seguranças, por omissão de auxílio e ofensas corporais “graves”. No entender do MP, o cidadão ucraniano morreu a 11 de março de 2020 porque ninguém o ajudou, apesar de ser bastante claro para muita gente o que se estava a passar naquelas instalações. A inação e o desinteresse poderão responder em tribunal.
Economia. O fim do processo João Rendeiro aconteceu no Tribunal Constitucional, pois as suas reclamações foram indeferidas; o cenário mais provável para o ex-banqueiro será a prisão. Em questões de segurança, a Autoridade da Concorrência acusou a 2045/Gália, a Comansegur, a Grupo 8, aPrestibel, a Prosegur, a Securitas e a Strong Charon de cartelização em concursos públicos.
Política. Marcelo disse OK à revisão da Constituição e parece que assim estão todos de acordo: o PR, o PM e o candidato a PM. Por outro lado, Marcelo deixou KO a Groundforce, a quem acusou de “prejudicar o país” e a ANA revogou-lhe a licença por uma dívida de 769,6 mil euros.
FRASES
“Saí de lá porque me deram guia de marcha. Na altura chorei”, Santana Lopes, sobre a sua querida Figueira da Foz
“O que protege verdadeiramente as populações não é o helicóptero que chega para apagar o fogo”, António Costa, sobre os incêndios
“Não era eu que ia a conduzir e não me apercebi do que estava a acontecer. E isso não me desresponsabiliza em nada”, Matos Fernandes, sobre excessos de velocidade
“Eu conheço bem o Benfica, mas o Benfica também nos conhece”, Rui Vitória, sobre o reencontro com a equipa da Luz