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Antonio Sampaio is with Aida Mota and Teresa Coelho.
REPORTAGEM: Covid-19: As longas filas de quem pede ajuda à Segurança Social timorense
*** António Sampaio, da agência Lusa ***
Díli, 18 mai 2021 (Lusa) – Os funcionários do Instituto Nacional de Segurança Social (INSS) timorense não têm mãos a medir para as centenas de pessoas que se estão a registar para receber os novos apoios socioeconómicos de resposta ao impacto da covid-19.
Desde que as medidas entraram em vigor, na semana passada, diariamente, centenas de trabalhadores e representantes de empresas, amontoam-se à frente do edifício do INSS, ele próprio insuficiente para o crescente volume de trabalho.
“Temos poucos funcionários e há muita gente aqui todos os dias para se registar para os apoios”, explicou à Lusa o presidente do INSS, Longuinhos Armando, olhando para as longas filas no exterior.
Sem distância social, muitos sem máscara, amontoam-se em filas mais ou menos organizadas, sob o olhar de efetivos policiais ali destacados a pedido do INSS, dada a confusão nos primeiros dias.
“Temos muito mais gente que no ano passado”, explicou à Lusa uma funcionária do INSS, recordando o volume de trabalho da primeira ronda de ajuda, há um ano.
Os formulários podem ser enviados eletronicamente, e grande parte das empresas está a fazer isso, mas muitos vão pessoalmente, às vezes sem documentos necessários.
A diretora executiva do INSS, Aida Mota, que se juntou às suas funcionárias no atendimento para acelerar os processos, explicou à Lusa que, em média, o INSS está a receber “cerca de 500 pedidos por dia”.
O agravar da crise económica, o impacto das cheias e o continuar do confinamento obrigatório, traduz-se no desespero de quem procura aceder aos apoios anunciados em março, e que, na melhor das hipóteses só serão pagos no final deste mês ou em junho.
Mesmo em situações normais, sem as medidas de apoio e as elevadas carências que uma crescente fatia da população sente, o INSS já vive uma carência crónica de pessoal.
A instituição tem atualmente cerca de 50 funcionários, mas apenas cinco pessoas para processar mais de 2.000 guias de pagamento e o pagamento de subsídios.
“O nosso plano orçamental para 2021 era aumentar o recrutamento de funcionários para poder reforçar o atendimento em Díli, abrir o atendimento nas regiões e para reforçar a vigilância de incapacidade”, explicou, anteriormente, Longuinhos Armando.
“Reconheço que há dificuldades no atendimento, mas não temos gente suficiente. Fizemos a proposta, mas foi-nos recusado na proposta do Orçamento Geral do Estado para 2021. E se não houver orçamento, não podemos fazer mais”, lamentou.
E se as carências do INSS se notam no trabalho normal, evidenciam-se ainda mais quando, primeiro em 2020, e de novo agora, a instituição esteve na linha da frente para canalizar alguns dos apoios aprovados pelo Governo para resposta à pandemia da covid-19.
Arlindo Sarmento, que tem uma pequena empresa de consultoria, é um dos que estava na fila à espera de apresentar os papéis, confirmando a situação difícil que os empresários e os cidadãos atravessam.
“Tenho uma empresa pequena, mas estamos aflitos porque não temos atividade. E não sabemos bem quanto vamos receber”, explicou à Lusa.
Nas filas há taxistas, condutores de microlets (o transporte público mais usado em Díli e parado devido ao confinamento), microempresários e domésticas.
“Eu estava a trabalhar num café, mas não temos trabalho e estamos com muitas dificuldades para comprar comida e conseguir viver. E com as medidas da covid-19 é muito difícil porque não conseguimos ganhar dinheiro”, disse à Lusa Francisca Magno.
Timor-Leste está a viver o pior momento da pandemia, com números recorde de infeções diárias, de hospitalizações e de mortes, mas paralelamente também cresce o negacionismo e as dúvidas sobre a covid-19.
Especialmente num setor da população que está entre o dilema de ter que decidir se sai diariamente trabalhar para ganhar dinheiro para viver, correndo mais riscos, ou se fica em casa, sem dinheiro, respeitando o confinamento.
“O Governo tem que apoiar o povo. Temos covid-19, mas as pessoas aqui não estão a morrer como nos outros países. Estas medidas só criam problemas ao povo que não consegue viver”, argumenta Edu Fernandes, outro dos que estava hoje no INSS.
“As pessoas não têm dinheiro, não têm apoio suficiente. Só mostra a incapacidade do Governo. O Governo tem que dar liberdade ao povo para que se possa movimentar e buscar a vida”, insiste.
Marcelino Exporto, trabalhador estudante, disse que muita gente não tem dinheiro e está a passar mau bocado.
“É preciso mais apoio. As pessoas têm que vir aqui pedir ajuda, mas depois correm riscos porque estão aqui amontoadas. E é preciso um melhor mecanismo”, frisou.
“As pessoas não podem sair de casa, mas precisam de dinheiro. O Estado tem que ajudar mais. A cesta básica não foi suficiente. Foi para uma ou duas semanas?”, questionou.
Os pedidos prendem-se com um pacote de medidas, com um orçamento de 45,3 milhões de dólares (37,6 milhões de euros), de apoio a empresas e trabalhadores por conta própria cujos rendimentos foram afetados pelas medidas em vigor no estado de emergência.
ASP // SB
Lusa/Fim
Segurança Social Timor-Leste


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