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O DUO OURO NEGRO |
Um dos temas mais desagradáveis de seguir é a subida da extrema-direita nos últimos anos um pouco por toda a Europa. Antes da pandemia eram as políticas de emigracão o principal catalizador dos ódios e agora, quando fizermos dois anos de vida confinada e as hordas de novos pobres comecarem a entrar no beco do desespero, teremos o rastilho que falta para a explosão de ideologias fascistas em Portugal.
Não é fenómeno único. Por terras nórdicas, o “Chega” foi o terceiro partido mais votado nas legislativas de 2018 e agora, três anos passados, o seu líder sugere maior restricão nas fronteiras e políticas mais agressivas contra emigrantes. Segundo ele, “como fez a Dinamarca”.
Pelos países da antiga cortina de ferro, no centro da Europa ou a sul (Espanha, Franca e Itália), o nacionalismo sobe de há alguns anos a esta parte.
Fiquei particularmente enternecido com a notícia de Marine Le Pen, grande amiga do nosso André, de um ligeiro desvio de fundos comunitários no valor de 6,8 milhões de euros. Provavelmente para alguma marquise que precisava de fechar na maison.
O engracado nesta história é que, sempre que um partido fascista se apresenta como anti-regime, limpo, diferente e pronto a “varrer com o sistema”, cedo ou tarde, vem à tona a podridão. E note-se que, em casos como Le Pen, nem são precisas notícias destas. Basta o discurso racista, xenófabo e carregado de ódio para se perceber ao que vem. Honra lhe seja feita…nunca o escondeu.
E o Ventura também não. Primeiro porque se rodeia de gente desta. Depois porque sugere, abertamente num debate presidencial, que cortar mãos a ladrões talvez não seja má ideia. E por fim, porque para lá daquele discurso de ódio, também o Chega tem uma relacão estranha com o seu financiamento, como nos revelou a reportagem da SIC. Venha ele de empresas em paraísos fiscais ou Césares da Flórida.
Há contudo uma diferenca entre Marine Le Pen e o nosso encantador de burros. Le Pen é fascista de corpo e alma, corre-lhe no sangue, vem do berco. Já o pai da Parrachita e neto do Tilly, é fascista por necessidade. Era essa a porta de entrada para a indignacão adormecida de uma parte da populacão.
Antes disso foi o Basta! E meses antes o PSD do Passos. E na semana anterior o cravo na lapela com o nosso Bernardino em Loures. E nos primórdios uma tese de doutoramento que defendia emigrantes. Portanto, a conclusão é simples: se daqui a um ano o voto dos nepaleses valer 5%, o Ventura escala os Himalaias em cuecas e ainda ajuda na apanha das framboesas.
O problema deste vazio ideológico é que, enquanto persegue o seu sonho de poder, vai deixando lastro de estrume pelo caminho. E não no sentido Galamba da coisa. É merda mesmo que se vai acumulando.
É o ódio que vai semeando na populacão, as divisões daí resultantes, a apresentacão de listas com candidatos autárquicos (e no futuro parlamentares) sem um esboco intelectual que se conheca ou uma ideia política que se possa dizer em voz alta. Alguém que envergonha uma democracia que se queria madura mas que, mesmo assim, arrasta meio milhão de votos.
Independentemente de incoerência mostrada, do populismo descontrolado ou da defesa de estado social que, provavelmente, afectaria grande parte dos seus votantes.
E quando for chamado a comentar o roubo da Le Pen, provavelmente dirá que é uma cabala para a fazer baixar nas intencões de voto, tal como “fizeram com o Chega nas presidenciais com a reportagem do Pedro Coelho”.
A parrachita gritará esta história aos fãs, o Tilly usará um dos dias da baixa, que já dura há 5 anos e 7 meses, para fazer um vídeo das verdades e o César enviará mais uns dólares para que metam uns cartazes no Marquês cheio de “verdades”. É assim que funcionam os portugueses de bem.
E o Chega subirá nas intencões de voto. Porquê? Porque há uma fatia de pessoas com pouca escolaridade que acreditam no Ventura e há outra fatia, com formacão académica, que acha que ele é o “único que barafusta”. É curioso constatar que o Coelho do PNR (agora “ergue-te” ou “levanta-te” ou o que é) andou anos e anos com um discurso, por vezes, menos abjecto que o do Ventura e não conseguiu sair dos votos da família e dos amigos.
Já o Ventura, com um discurso fluído e com uma lata que dava para vender gelo a um pinguim, sabe desde os Acores que chegará a um governo de coligacão nacional com o PSD. Afinal, como o próprio já assumiu, foi Deus que o enviou para endireitar Portugal.
A questão que os “portugueses de menos bem” colocarão por esta hora, talvez seja: “por onde andarias tu, pai do carpinteiro, no dia em que o Vieira foi à comissão do BES?”
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NOTA DE RODAPÉ:
Fico em dívida com quem tem a paciência para me ler e ainda mais com quem acha que o que escrevo é digno de ser partilhado. Não querendo por isso ser mal agradecido ou interpretado erradamente, pedia a quem usasse textos meus em debates ou noutros murais, que pelo menos identificasse a autoria dos mesmos.
Nada contra a troca de ideias e partilha de pontos de vista. Mas já que tudo é gratuito, facam pelo menos o obséquio de, quando falarem em playback, digam que a letra é do Paião. Parecendo que não isto ainda dá trabalho.

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