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O negócio das vacinas (Crónica Rádio Atlântida)
O rolar do tempo trouxe-nos a mudança de estação.
Com receios mais que fundados, a Primavera surpreendeu-nos com perfumes da natureza, desabrochando e florindo. Bem precisamos de novos ares, pois confinados a regras pesadas, os benefícios sanitários estão difíceis de surtir efeito.
O certo é que o rolar dos dias não pára. Os que temos mais idade, enclausurados em quatro paredes e a alguns milhares de passos ao ar livre, perdemos o gosto em visitar as ruas da cidade, em tomar pulso ao dinamismo social, em poder visitar amigos, em conviver e alimentar a amizade e a esperança, não vá o diabo tecê-las e enviar-nos para uma enfermaria do hospital.
Esperávamos que a primavera deste ano nos trouxesse os frutos do trabalho aturado de tantos cientistas que, dia e noite não descansaram para encontrar uma vacina, para combater o maldito vírus que atacou a nossa vida.
A descoberta aconteceu, mas foram, por ironia do destino, esquecidos os homens e mulheres que tanto investigaram para que milhões de pessoas pudessem resistir e salvar-se…
Em seu lugar, fala-se à boca cheia, dos laboratórios e das empresas que produzem as vacinas já aprovadas e que vão ganhar milhões e milhões com as patentes…
Enquanto milhares e milhares de pequenas empresas sucumbiram face ao sars-cov-2, e milhões de desempregados perderam o emprego, aí está o maior negócio dos anos 20 deste século – o negócio das vacinas.
Em volta dele desencadeiam-se guerras comerciais, “fake news” -falsas notícias, sobre graves efeitos secundários desta ou daquela vacina – como se qualquer medicamento não tivesse efeitos secundários negativos…
A guerra das vacinas no seu melhor, em benefício dos grandes laboratórios de medicamentos, em prejuízo da saúde dos povos mais vulneráveis.
Já se percebeu que este tempo cavará um fosso ainda maior entre ricos e pobres, entre países desenvolvidos e sub-desenvolvidos, sem capacidade para investirem na saúde da suas populações.
A nível global, se não funcionar a solidariedade internacional reclamada pelo Secretário Geral da ONU António Guterres, às pequenas comunidades tarde ou nunca chegarão as vacinas.
Nós por cá aguardamos que as migalhas caiam da mesa dos ricos, e mesmo sendo região ultra-periférica da União Europeia, poucos farão caso da nossa pequenez e indigência.
É que não passamos de um pontinho, quase invisível no mapa no meio do Atlântico e só valemos como porta-aviões, quando os poderosos aliados o querem.
Tem sido sempre assim, durante os 500 anos de vida nestas ilhas.
Pergunto: não haverá remédio para esta terrível doença do isolamento que atrofia a grande dimensão da nossa zona económica exclusiva? Ou o mal está em nós que nos habituámos a estender sempre a mão, como agora acontece com as vacinas, e não lutamos para defender e reclamar os nossos direitos e a nossa dignidade, junto seja de quem for?
Como Ciprião de Figueiredo dizia: Antes morrer livres que em paz sujeitos!
José Gabriel Ávila
jornalista
22 março 2021
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