O AZAR DE NÃO SER TAP

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O ‘azar’ de não ser TAP
Vamos ver se percebi bem. Numa altura em que a economia está de rastos, que as medidas necessárias de confinamento mandaram milhares para o desemprego, que fecharam ainda mais negócios, muitos dos quais jamais voltarão a abrir portas, que há pessoas na miséria a terem de assumir a vergonha de pedir ajuda, que se discute como se vai pagar tudo isto, a TAP está prestes a receber mais 500 milhões de euros. O dinheiro público lá injetado, (1,2 mil milhões de euros) já desapareceu, a empresa perde 80 milhões por mês. Sim, leu bem, 80 milhões de euros todos os meses.
Esperava-se que, perante tal descalabro, perante o facto de na TAP terem deixado de entrar receitas e que perante as perspetivas péssimas para o futuro do negócio, a gestão da empresa tivesse feito alguma coisa. Mas não. Além de alguns despedimentos que resultaram da não renovação de contratos a prazo, o resto continua igual. Só agora irá começar a cortar, por enquanto apenas esbanjaram dinheiro público que lá foi injetado. Parece que a realidade só mudou para quem não tem a ‘sorte’ de trabalhar na TAP. A arrogância e a falta de moral ultrapassa o imaginável.
Alegadamente, o acordo com os 15 sindicatos terá sido uma vitória. Uma coisa é certa, para si, contribuinte, só pode ter sido uma derrota. Por dez a zero. E ainda só estamos no intervalo. Quando um acordo de reestruturação de uma empresa falida com os sindicatos não origina uma onda de choque e contestação e, pelo contrário, parece haver, para já, paz social, só há uma avaliação possível. Os sindicatos ganharam e o erário público vai pagar a conta. É o custo de uma paz social de uma empresa agora pública, onde a folha de cálculo foi substituída por um xadrez mediático e público feito à conta do Orçamento do Estado.
A verdadeira gestão da TAP é hoje política e comandada por Pedro Nuno Santos, que não perde uma oportunidade para ganhar o apoio da extrema-esquerda, namorando o PCP ou o Bloco de Esquerda. Quando as coisas são colocadas neste patamar, sabemos que o que está em causa jamais será o melhor interesse da empresa ou dos contribuintes. Permitam-me que traduza o comunicado que a ‘gestão’ fez sobre o acordo com os sindicatos. Quando se lê que a redução de custos vai permitir “benefícios financeiros de cerca de 1,5 mil milhões de euros até 2025 bem como trabalhar em medidas de eficiência organizacional, aumento da produtividade e de geração de receita adicional”, ficamos na realidade a saber que as poupanças estimadas para os próximos quatro anos são apenas uma pequena parte do dinheiro injetado na TAP e que deverá ultrapassar os 3,7 mil milhões. Ora, em vez de haver um compromisso de devolver o dinheiro de impostos que lá foi colocado, há a certeza de que jamais o veremos de volta. Em vez de despedimentos, infelizmente necessários, fala-se em corte de salários, pré-reformas facultativas, part-time e licenças sem vencimento.
Estão a tentar empurrar com a barriga uma bola de neve gigantesca. Que não vai dar para esconder no fundo de uma gaveta ou debaixo de um tapete e que algum dia vai fazer rebentar a TAP ou os cofres do Estado, ou os dois.
Enquanto isso, o resto da economia definha, suportada por moratórias infindáveis que não são mais do que artimanhas que produzem uma realidade alternativa onde o mundo ainda é cor de rosa. A TAP foi salva não por ser estratégica mas porque era um problema político e mediático. Nunca explicaram o racional dessa decisão, porque ele não existe. No mundo real fecham empresas a quem nunca foi dada a oportunidade de serem salvas. Há de certeza muitas que mereciam o apoio do Estado e não o tiveram. Vidas e sonhos destruídos. Essa análise (que empresas e negócios valia a pena salvar) nunca foi feita. Em vez disso, resolveram congelar tudo, com moratórias e lay-offs, como se mais de um ano depois (sim, está quase a fazer um ano de covid) fosse possível descongelar tudo, como se o mundo não estivesse virado do avesso. Está, mas só para alguns. Os que tiveram ‘azar’.
2 Janeiro, o pior mês em número de mortos desde 1918, passou-se sem um pedido de desculpas. Sem a capacidade de reconhecer os erros indesculpáveis de abrir o Natal, de terem enchido o fim de ano de promessas de vacinas que tardam em chegar, de não terem ouvido quem realmente sabia sobre a necessidade de fechar as escolas, de terem ignorado a urgência de mais medidas. Carmo Gomes, alegado demissionário das reuniões do Infarmed que mais parece ter sido demitido, disse apenas com um tom mais forte aquilo que muitos já tinham alertado: o combate a uma pandemia tem de ser proativo. O Governo foi reativo e em câmara lenta. Foi incapaz de fazer o que se espera dele, que governe. Esteve em negação durante demasiado tempo, e isso teve um custo. Enorme. E vai continuar a ter. Não só em vidas humanas mas no impacto na economia. O mundo colocou um cordão sanitário à volta de Portugal. E isso terá um preço que perdurará ainda durante bastante tempo.
(Expresso de 12/02/2021)
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  • E com indemnizações até 250 000€ …
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