MAIS UM QUE MORREU. ERA UM GRANDE TIMORENSE, um amigo QUE CONHECI EM 73

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Notícia mais triste, notícia temida, desde que soube que o Tony Belo foi internado

Ena UCI em Lisboa com Covid-19.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

ainda lhe tentei ligar mas já não atendeu

EXTRAIO DO MEU LIVRO tIMOR lESTE DOSSIER SECRETO 1973-1975 e doutro livro chronicaçores

Abril, 25, 1974. Era hora de jantar em Díli (meio-dia em Lisboa) e eu estava de Ajudante de Oficial de Dia no Quartel-general em Taibesse. O idoso Oficial de Dia já estava, há muito, a olhar para o seu umbigo, depois da rodada habitual de vinho “Periquita” ou outro que a Messe de Oficiais não tinha grande escolha. Toni Belo, operador da Rádio Marconi, ligou para casa, disseram-lhe que estava de Dia e ligou para o Quartel-General a dizer-me que ia receber uma chamada telefónica uma hora depois. Chamei o condutor de serviço, mandei-o ligar o Jeep e passados minutos estava em Díli, ansiosamente esperando ‘a chamada’. Pressenti tratar-se de algo muito importante. Anteriormente, acordara com a família que só haveria telefonemas em caso de emergência. Sabia e estava confirmado, que toda a correspondência era sujeita a censura prévia e as chamadas telefónicas gravadas. Quando o telefone tocou, ouvi, sem acreditar: Era a REVOLUÇÃO vitoriosa. Embora Timor não dispusesse de telex, desde o ano anterior dispunha de cabo submarino para contactos radiotelefónicos com o mundo exterior. Quando a Revolução dos Cravos aconteceu houve quem recebesse a notícia via telefone como eu. Depois, foi uma questão de perder tempo na rádio de ondas curtas e apurar detalhes. Sem perder tempo, pedi ao condutor para passar por casa (na PetroTimor) onde aviso os colegas de habitação (o cirurgião Prata Dias e o Eng.º Proença de Oliveira, subchefe dos Serviços de Agricultura). Pedi-lhes o máximo sigilo, ligo o rádio em ondas curtas e levo-o no regresso ao Q.G. onde anoto que nada havia a assinalar da minha ‘ronda’ pela cidade: tudo calmo e normal. Durante a noite, escuto avidamente os noticiários da BBC, Rádio Austrália e uma série de emissoras (ouvi a Rádio Paquistão, em inglês, pela primeira vez). Na manhã seguinte, o camarada Freitas, que me ia render, pergunta se havia novidades. Sem confiar em ninguém, depois do que se passara no jornal, respondi: “Nada, que esperavas?”

Os dias seguintes são caóticos, rumores e generalizada incredulidade. O 25 de abril só chegou a Timor a 18 novembro 1974, mas quando as novas de que o Governador tinha mandado apreender a gravação e a versão impressa do discurso, a maioria convenceu-se de que afinal a ‘Revolução dos Cravos’ não era imaginação. A celebrada vitória vem estampada em todos os jornais e revistas (nacionais e internacionais), mas parece estar noutra galáxia, a anos-luz de Timor. Quase nem um tiro fora disparado em Portugal. O regime caiu porque estava tão podre que estava incapacitado de suster qualquer ataque. Em Portugal, os soldados usam os cravos encarnados nos canos ou baionetas das espingardas G-3. O povo excitado com a liberdade acabada de nascer. Sobem os barómetros da esperança depois de 48 anos de obscurantismo. Os dias passam e o oportunismo camaleónico é avassalador. Do dia para a noite quase todos são revolucionários, democratas de nascença.

Torna-se essencial que Aldeia se demita depois do famoso discurso em que, de forma obstinada, se opunha ao novo regime. Surgem rumores de que o Capitão-tenente Leiria Pinto, Comandante da Defesa Naval (boatos que confundem pois era considerado extremamente conservador), é o escolhido pela Junta, outros asseveram que é o Chefe de estado-maior, Major Eng.º Arnao Metello, o homem de confiança da Junta de Salvação Nacional. É um culto mas sombrio oficial de carreira, boa pessoa, intelectual, mais reconhecido pela falta de decisão e de garra do que pela sua proatividade. A oposição ao coronel Aldeia cresce. Ameaça tornar-se numa bola de neve. Os militares divididos entre os progressistas, maioria dos oficiais milicianos, furriéis e sargentos, e a velha guarda dos oficiais de carreira.

Ramos-Horta viu assim o 25 de abril (entrevista ao Expresso em 28.11.2015)

A situação começa a clarificar-se em maio, embora nem todos os decretos aprovados em Lisboa se tornem logo extensivos a Díli. Depois do 25 de abril comecei a publicar artigos que o Comando Militar e, em especial o CEM (Chefe do Estado-Maior Arnao Metello) queriam evitar e censurar. Fui chamado por ele quase todas as manhãs. Simpaticamente, mandava o motorista no velho Volkswagen do Estado-Maior buscar-me a casa. Nessa rotina (prolongou-se por bastante tempo e trouxe consequências ao meu serviço militar e à minha sanidade mental) lá tinha de explicar porque publicara artigos censurados e considerado material proibido. Uma verdadeira caça ou o jogo do gato e do rato.

 

 

nota final quando emigrou para a austrália em finais de 74 ou inicio de 75 (não recordo exatamente) Tony Belo deixou-me o seu jipe wyllis descapotável…nos primeiros tempos depois da invasão indonésia de 7.12.75 operou no território norte um dos dois rádios que comunicava com os guerrilheiros da fretilin até a austrália o aprender… foi através dele como se viu atrás que fui um dos primeiros a saber do golpe de 25 de abril em lisboa.**********************************

escreve

22 de Janeiro de 2021 – FALECEU TONI BELO
Conheci os quatro irmãos Belo quando eu ainda era jovem estudante. Padre Mário C.L. Belo (já falecido) foi meu colega no Seminário e fomos ordenados presbíteros em 19 de Abril de 1971; José A. Belo foi meu companheiro no Seminário de Dare, Macau e Leiria. Toni Belo e sua irmã Olinda Belo Silva conheci-os mais tarde.
António Belo (Tony Belo), como Crys Chrystello escreveu, era “um grande timorense”. Homem naturalmente bom, grande amigo e grande defensor da independência de Timor.
Era operador da Rádio Marconi em Díli até fins de 1974, quando emigrou para Darwin, Austrália, isto é, deixou Timor logo depois de 25 de Abril.
Em Darwin, como grande independentista que era, operou um rádio que comunicava com os guerrilheiros de Timor Leste até a policia australiana o aprender.
Passou a residir depois em Western Australia onde criou uma Companhia de Limpezas e dono de um Supermercado em Subiaco.
Mais tarde, a convite de Ramos Horta, partiu para Timor Leste com a sua companhia e lá ficou até o seu falecimento em Portugal.
Soube dias antes do seu falecimento que estava internado por causa de covid 19. Pressenti de imediato o perigo da sua vida. Ontem é que soube do seu falecimento no dia 22 deste mês.
Queridos amigos Olinda e José, diante da imensa dor pela perda de dois irmãos, Padre Mário e Toni, não encontro palavra que seja capaz de consolar o vosso coração, mas quero deixar os meus mais sinceros sentimentos. Conheci de perto o amor e a amizade que existia entre vós e os vossos queridos dois irmãos falecidos, e sei como a figura deles deixará em desalento o vosso coração. Que o nosso Bom Deus os receba na sua mansão na Nova Jerusalém celestial e os coroe com a coroa de louros que eles conquistaram neste vale de lágrimas. Um abraço amigo. D. Cunha.
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