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Lusologias José Soares
Presidenciais à la carte
No que aos Açores diz respeito, nenhum dos candidatos tem algo no seu programa presidencial que traga alívio às condições constitucionais que continuam a assombrar a democracia portuguesa e a submeter forçadamente à suserania do retângulo ibérico os arquipélagos atlânticos, réstias dos impérios levados pelos ventos da história.
Nem uma palavra sobre uma qualquer eventual revisão constitucional para permitir partidos insulares e terminar com a proibição dos mesmos.
Nem uma palavra sobre a permissão de referendos insulares.
Nem uma palavra sobre a liberdade de expressão autonomista ou mesmo independentista, sem que isso seja considerado crime.
Nem uma palavra sobre um rosário de tantos outros assuntos, nomeadamente a partilha do Mar dos Açores, já considerada em lei e que o atual presidente em fim de mandato até concordou e assinou, mas que umas três dezenas de deputados de São Bento do PSD, do PS e do PCP, não satisfeitos com a causa democrática, decidiram questionar junto das instâncias judiciais, para satisfazerem o seu ego colonialista. Alegam que pode estar em causa a soberania portuguesa. E foram os avós destes que de imediato se aliaram e entregaram ao castelhano Filipe no século XVI, quando este entrou e tomou a coroa portuguesa e todo o país, tendo as Ilhas açorianas resistido na sua pequenez durante três anos, principalmente Angra – a do Heroísmo – que mandou recado ao invasor de que “Antes Morrer Livres, Que Em Paz Sujeitos”. Que lições de patriotismo nos querem dar, essa corja política ignorante tripartidária?
Nem uma palavra sobre a extinção do cargo de representante do reino, assunto que continua amarrado na casota de cão.
Nem uma palavra…
Não se admirem da já habitual e clássica abstenção açoriana e madeirense. Agora ainda mais acentuada com um confinamento bendito.
A transparência não tem sido a causa defendida pelos atuais corredores a Belém e a intolerância dalguma extrema esquerda começa a tirar a máscara, ameaçando candidatos da direita por terem o mérito de os ultrapassar nas sondagens.
Quanto mais denegrirem o “Chega”, mais o atiram para a ribalta. Ainda não perceberam isto? Ou trata-se apenas de rasteirar o adversário que lhes ultrapassa na maratona?
Candidatos sem envergadura democrática nem tolerância para aceitar outros que são tão legais como eles sob a Constituição da república.
Não sou membro de nenhum partido político nem simpatizante de demagogos. Sou intrinsecamente açoriano e democrata. Isso basta-me de sobra. Aceito as diferenças, mesmo nas divergências. Luto através do debate e do diálogo.
As Ilhas não abrem o apetite a estes candidatos. A presidência é apenas um cargo de passeio nos jardins de Belém, a acariciar as cercas de cedros, as flores… as aparências televisivas e esperar pelo fim de cada mês. No final, é mais uma pensão acumulativa para a vida ou o que resta dela.
Ser presidente desta república com cada vez menos ética republicana, sem transparência democrática, sem justiça igual para todos, com muitos benefícios apenas para alguma casta elitizada pela política. Os dados estão viciados.