PEDRO PAULO CÂMARA 2020 MORRE-SE NOS GINETES

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a MORTE nos GINETES (Parte I)
Nos Ginetes, morre-se! Morre-se devagarinho e em silêncio! Morre-se por detrás das persianas cerradas e nas dobradiças das janelas, ou do corpo, que enferrujam sem que alguém se importe, sem que alguém se incomode. Morre-se! E nada nem ninguém permanece eternamente, nem sequer os fetos, mais ou menos reais, da Fonte do Sapateiro. Nem matéria nem essência sobrevivem! Há ruínas em cada rua; mais importante: há ruínas dentro de nós; ruínas vivas que se arrastam pelas ruas avelhentadas desta terra feita de gerações.
Morre-se nos Ginetes. Ou vai-se morrendo, como cortinado roxo que vai perdendo a cor, consumido pela dolorosa luz tórrida de muitos verões. Morre-se. Oh, morre-se em silêncio e na desesperança. Em surdina, nas esquinas, nos cafés, só trivialidades importam e ervas daninhas.
Nos Ginetes, morre-se… ou se deixam morrer. Ou deixam morrer a obsoleta terra.
Cansam-me as metáforas e as abstrações. Concretizemos.
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