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A pandemia ‘invisível’
A pandemia trouxe uma série de problemas sociais, alguns dos quais estão a passar ao lado das autoridades e dos partidos, ocupados que estão com a propagação incontrolável do vírus.
Um deles é o chamado desemprego ‘invisível’, fenómeno que atinge também a nossa região, possuindo uma legião inexplicável de trabalhadores precários.
Desempregados ‘invisíveis’ são os que deixaram de figurar na população activa, mas também não constam nas listas do desemprego.
São trabalhadores que, provavelmente, deixaram de acreditar na procura de emprego, alguns dos quais estarão a viver à custa de trabalho precário sem registo (os incontornáveis “biscates”).
No país devem rondar os 40 mil e nos Açores há quem tivesse detectado, no terceiro trimestre do ano passado, cerca de 7 mil.
O fenómeno é transversal, mas mais detectado no sector do turismo, que sofreu um abalo no ano passado (irá fechar o ano, com toda a certeza, perto dos 80% em queda) e que já vislumbra mais este primeiro trimestre de 2021, no mínimo, completamente perdido.
Em Março do ano passado, quando começou a pandemia, havia 2.292 trabalhadores ao serviço nos hotéis da região, que foram diminuindo de mês para mês, até chegar a Novembro passado com 1.565 trabalhadores.
Os custos com pessoal caíram para metade, mas os proveitos totais foram um desastre: de 100 milhões de euros em 2019 para apenas 25 milhões até Novembro do ano passado.
Se juntarmos a estes números a restauração e todas as actividades dependentes do turismo, já se pode imaginar o enorme trambolhão em que estamos metidos.
Está toda a gente à espera de um milagre, mas por mais fundos comunitários e outros apoios que possam chegar, é inevitável o dominó de falências e despedimentos que vamos assistir já a partir deste trimestre.
Ninguém aguenta uma pancada desta envergadura, por mais medidas que se possam implementar.
Mesmo os que sobreviverão, vão levar anos a normalizar as suas contas e não será fácil regressar ao ritmo pré-pandemia.
A saúde está primeiro, mas se não olharmos rapidamente para os outros problemas sociais que começam a surgir, sobretudo nas populações mais frágeis, vamos ter uma catástrofe ainda maior.
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SE A MADEIRA QUISESSE… – O autonomista e jornalista José Bruno Carreiro escreveu um artigo no “Correio dos Açores” em 1922 que ficou famoso, como impulso para o movimento autonomista de então, intitulado “O mal insulano” e que tinha como subtítulo “Se a Madeira quisesse…”.
Era um apelo à Madeira para se juntar aos Açores numa frente comum contra o centralismo lisboeta, a que os madeirenses responderam “A Madeira quer”.
Agora é a Madeira que nos ultrapassa em matéria de dinâmica autonómica, ao propor aos Açores uma plataforma comum entre os dois parlamentos na defesa dos insulares.
E os madeirenses vão mais longe: acabam de propor uma revisão da Lei de Finanças Regionais, face ao marasmo do parlamento açoriano, que nem conseguiu, numa legislatura inteira, produzir uma reforma da Autonomia.
O PS da Madeira acaba de produzir um documento interessante sobre esta matéria, que parece ter o consenso genérico do PSD, esperando-se que, no parlamento açoriano, faça-se alguma luz, também, sobre o mesmo.
No essencial a proposta apresenta um aumento do diferencial fiscal, igualdade de tratamento entre as duas regiões, capitação do IVA e alterações aos limites de endividamento e transferências do Fundo de Coesão.
O PSD madeirense quer ir mais longe e propõe a criação de um sistema fiscal próprio.
Havendo um consenso insular entre tantas forças políticas, esta é a hora de se avançar com um projecto concreto, arrojado e sério.
Como já desafiava José Bruno há quase 100 anos, basta as duas regiões quererem…
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FISCALIZAÇÃO – O que se está a passar com a fiscalização das localidades com cercas é só mais um exemplo da nossa incapacidade autonómica, sem instrumentos legais para utilizarmos as forças armadas ou os recursos da PSP.
É uma velha discussão que nunca iremos vencer, a julgar pelas mentes preconceituosas no Terreiro do Paço, a começar por Marcelo e António Costa, que vieram, mais uma vez, com a história patética da “continuidade territorial”.
Há que recorrer a todos os meios para a defesa da nossa saúde pública, mesmo que isso implique um estado de desobediência aos iluminados centralistas, como fizeram os históricos autonomistas centenários.
São as nossas vidas que estão em jogo. Haja mais coragem.
(
Osvaldo Cabral
– Diário dos Açores de 20/01/2021) — with
Osvaldo José Vieira Cabral
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