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Duzentos anos de José do Canto
Resumidamente, eu diria que a vida de José do Canto teve uma missão: tornar os Açores mais Açores e melhores Açores.
É desta maneira, modesta com certeza, que eu assinalo os 200 anos do nascimento do grande micaelense, grande açoriano e grande português que foi José do Canto. Efectivamente, ele nasceu a 20 de Dezembro de 1820, na ilha açoriana de São Miguel, onde veio a falecer com mais de 80 anos, uma vida cheia de ideias, projectos e realizações, em benefício próprio e, acima de tudo, visando o progresso do arquipélago e da sociedade açoriana.
Todos conhecem o invejável percurso de vida e a obra notável de José do Canto, como distinto intelectual, como botânico muito conhecedor e como empenhado impulsionador do desenvolvimento agrícola e industrial regional. Foi, a todos os títulos, um iluminado, sempre actualizado com o que de melhor se sabia e fazia na altura na Europa mais desenvolvida. Viajou muito, para ver e conhecer outras realidades de desenvolvimento cultural e técnico, para depois aplicar os conhecimentos obtidos na sua terra natal.
No dia em que se completam 200 anos do seu nascimento, é oportuno reflectir, de facto, sobre o trabalho que José do Canto desenvolveu, como aturado estudioso nomeadamente da obra de Luiz de Camões, como criador de belos jardins importando exemplares de várias partes do mundo e como modernizador da agricultura micaelense, com a introdução das culturas do ananás, do chá, do tabaco e da batata-doce para fins industriais, assim como com o incremento de novas práticas agrícolas, para tornar os terrenos mais produtivos. O objectivo fundamental aqui foi ultrapassar o fim do chamado “ciclo da laranja”, que decorreu entre a segunda metade do século XVIII e a primeira metade do séc. XIX e que grande riqueza trouxe aos Açores, com a continuada exportação do precioso fruto para mercados europeus, principalmente Inglaterra. Depois as laranjeiras sofreram uma doença ao tempo impossível de tratar e a cultura definhou.
José do Canto conseguiu, com outros com certeza, mas sendo ele o mentor e principal dinamizador, reerguer a agricultura micaelense. E ainda hoje temos, pois, o ananás e o chá como culturas essenciais na ilha de São Miguel.
Além de outras espécies, ele introduziu a criptoméria na floresta açoriana. Uma fonte de riqueza nas nossas ilhas e que empresta à paisagem uma beleza inconfundível. Também não há jardim na nossa terra que não possua cameleiras com as suas belas flores: pois foi ele que as trouxe para os Açores.
Muito mais haveria a dizer sobre José do Canto, sem esquecer, obviamente, o seu decisivo contributo para a construção do porto de Ponta Delgada, que tem sido fundamental para as exportações e importações, para a pesca e para o turismo.
O meu objectivo não é descrever em pormenor o extraordinário legado de José do Canto, porque todos o conhecem e até porque me falta competência para tal. Desejo apenas assinalar aqui a efeméride dos 200 anos do seu nascimento e enaltecer o seu exemplo de açoriano culto e viajado, dinâmico e empenhado, um progressista, não no sentido político mas no sentido de querer alterar para melhor a vida económica açoriana, inspirado pelos ventos europeus do progresso cultural, científico, agrícola e industrial, contra o imobilismo das elites açorianas de então. Penso que podemos dizer que ele teve um lema de vida: inovar, dinamizar e melhorar.
Ele deixou, sem qualquer dúvida, uma marca muito positiva, que persiste, em benefício de todos. Numa palavra: os Açores e os açorianos devem muito a José do Canto, que repousa em paz, como merece, na bela Ermida de Nossa Senhora das Vitórias, que ele mandou construir, ao lado da sua esposa, Maria Guilhermina Frias Taveira de Neiva Brum da Silveira, nas margens da lagoa das Furnas, junto da natureza, que ele tanto amou e que lhe foi inspiração toda a vida.
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